Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
O Pequeno Príncipe

Descobrindo o pequeno príncipe

por Francisco Russo

“O essencial é invisível aos olhos”. A frase mais célebre do livro "O Pequeno Príncipe" é usada até hoje para ressaltar a importância dos sentimentos e do caráter no dia a dia e, como não poderia deixar de ser, tem importância crucial na animação O Pequeno Príncipe. Afinal de contas, a proposta maior deste novo trabalho do diretor Mark Osborne (Kung Fu Panda) não é propriamente reproduzir o livro escrito por Saint-Exupéry, mas sim captar sua essência.

É importante ressaltar que a história do menino que vivia solitário em um asteróide e, viajando pelo espaço, encontrou um aviador perdido no deserto está no longa-metragem. Entretanto, ela ocupa um espaço menor, cerca de um terço da duração apenas. A trama principal gira em torno de uma pequena garota, que leva uma vida bastante regrada devido à obsessão da mãe em controlar absolutamente tudo à sua volta. Para situar ainda mais este universo rígido, a animação computadorizada ressalta sempre o quanto tudo é retangular e cinza, sem imaginação alguma. O contraponto é justamente a casa do vizinho, repleta de cor e irregularidades, uma metáfora à própria personalidade de seu dono.

É a partir do encontro entre a garota e o vizinho, um senhor que lhe conta a tal história do pequeno príncipe, que o longa-metragem enfim ganha corpo. É quando a magia entra em cena, no sentido de um universo lúdico e repleto de criatividade. Neste sentido, a trama do livro de Saint-Exupéry é utilizada como símbolo deste mundo colorido que, aos poucos, transforma a vida da tal garota. A história dela e a do pequeno príncipe são narradas em paralelo, cada um apresentando uma técnica de animação diferente: ela, a computadorizada; ele, em stop motion. Só que, a partir de determinado momento, o longa-metragem vai além e ousa ao seguir em frente na história já conhecida. É exatamente neste ponto que O Pequeno Príncipe perde a chance de ser grandioso.

Ao trazer para a sua realidade o conceito da morte e de como reagir a ela, a animação flerta com uma situação imensa mas acaba deixando-a de lado, optando pelo caminho fácil do mundo fantasioso. Que não é ruim, é bom ressaltar, apenas menor. Por mais que demonstre uma nítida irregularidade entre a fase inicial e o momento em que a garota passa a acreditar que sonhar é possível, e outros menores no decorrer da trama, o longa consegue sempre manter um certo interesse, muito ajudado pelo traço mais lúdico da animação e a bela trilha sonora de Hans Zimmer e Richard Harvey.

No fim das contas, O Pequeno Príncipe funciona tanto para quem nada sabe sobre a história como para quem a conhece de cor e salteado, já que aqui é apresentada uma variável do conto clássico. Ao transmitir uma mensagem sobre a importância da imaginação, o longa aborda também a perda da inocência decorrente do inevitável crescimento. Um filme mais propriamente curioso do que bom, por mais que seja agradável, devido às técnicas diferentes de animação e a até mesmo corajosa proposta de continuar o livro, apesar do desenrolar ser repleto de situações autoreferentes. O destaque maior, sem sombra de dúvidas, fica por conta da raposa: uma graça, seja em qual aparência estiver.

Filme visto no 68º Festival de Cannes, em maio de 2015.