Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
O Monge

Duvidosa tentação

por Roberto Cunha

Imagine um pedófilo em um confessionário, com a perversão embutida nas palavras, dizendo que a ideia do "ataque" foi da vítima. Adicione ao absurdo a música de Alberto Iglesias, três vezes indicado ao Oscar por O Espião que Sabia Demais em 2012, em 2008 por O Caçador de Pipas e, em 2006, por O Jardineiro Fiel. Esse é o começo de O Monge, suspense adaptado de um conto de mesmo nome escrito por Matthew G. Lewis, publicado em 1796.

Escrito e dirigido por Dominik Moll, que fez fama com filmes como Harry Chegou Para Ajudar (2000) e Lemming - Instinto Animal (2004), essa nova coprodução França/Espanha está longe de ser uma obra-prima, mas tem uma história interessante, que questiona certos (e batidos) dogmas religiosos e pode agradar alguns cinéfilos.

"Cada pecador comete o pecado a sua maneira". Frases como essa são proferidas por alguém que, quando criança, foi abandonado nas escadas da Ordem dos Capuchinhos, na Espanha do século XVII, e com uma retidão impressionante tornou-se um cultuado pregador da fé. Ambrósio (Vincent Cassel) arrebatava multidões com seus discursos, enquanto provocava inveja entre seus pares. Quando enfrenta o preconceito para acolher na instituição um jovem com o rosto mutilado, protegido por uma máscara, sua convicções sobre as tentações (e o poder do Diabo) começam a ruir e uma inusitada parceria mudará sua vida.

Entre as curiosidades, a música de uma procissão religiosa que lembra muito a "Marcha Fúnebre", de Chopin, e uma bela e forte frase de mãe, que afirma "Amor é veneno". Com orçamento estimado em US$ 14 milhões (valor baixo), os poucos efeitos especiais agradam e a fotografia cumpre seu papel, assim como as atuações apenas coesas.

Usando diferentes personagens e seus comportamentos para tocar em temas/tabus como gravidez, desejo, paixão e até incesto, o roteiro pretende mergulhar você num clima de mistério. Revela a rigidez (e também a crueldade) da fé sem limites, mas os diálogos oscilam entre o regular e o quase ruim, dando ao espectador a chance de não se envolver, o que é um pecado para qualquer filme. Assim, cabe a você decidir se cairá na tentação de assistir ou não.