Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
W.E. - O Romance do Século

Viver a lenda

por Francisco Russo

O ideal romântico prega que o amor é capaz de superar as maiores dificuldades, o que nem sempre corresponde à realidade. Diante desta descrença, casos como o do Duque de Windsor, que abdicou do reino britânico em nome da paixão que sentia por uma americana duas vezes divorciada – sacrilégio para a monarquia –, impressionam. É claro que tudo não se resume apenas a isto, há vários fatores externos tão decisivos quanto o sentimento presente no casal. Mas o ato, por si só, chama a atenção e dá margem a sonhos românticos de jovens inocentes, que queiram viver a lenda. É este um dos enfoques que a cantora Madonna, se arriscando pela segunda vez na direção, procura dar a W.E. - O Romance do Século.

A história se divide em dois núcleos. No passado, é mostrada a aproximação entre o futuro rei Eduardo VIII (James d'Arcy) com a ainda casada Wallis Simpson (Andrea Riseborough). A amizade leva à paixão e posteriormente ao amor, fazendo com que ambos rompam com o passado para que possam, enfim, viver juntos. No presente há Wally Winthrop (Abbie Cornish), cujo fascínio pelo chamado romance do século guia sua vida. Ela nada mais faz além de pesquisar sobre a história, nos seus mínimos detalhes, e sonhar enquanto vagueia pelas peças do casal que em breve irão a leilão. Paralelamente, sua vida pessoal é um grande desastre. Ela não consegue engravidar e enfrenta problemas no casamento.

Um dos maiores problemas de W.E. é justamente a opção de Madonna, também roteirista em parceria com Alek Keshishian, em contar a história a partir destas duas realidades distintas. O contraponto gerado – o amor que tudo consegue versus a infelicidade no casamento – é ingênuo e estereotipado, para ambos os lados. Se o lado amoroso da Wallis do presente é péssimo, com direito a acusações de infidelidade e agressões verbais e físicas, a realeza mostrada também é clichê, no modo de se portar e agir. Ou seja, em ambos os núcleos o rumo que a história toma é óbvio e tedioso.

O que há de interessante em W.E., curiosamente, remete a outro filme recentemente exibido nos cinemas, O Discurso do Rei. Ambos tratam do mesmo período e com os mesmos personagens, só que com enfoques bem diferentes. W.E. é como se fosse o lado B de O Discurso do Rei, mostrando uma história de bastidores sobre a posse do rei George VI. O monarca, por sinal, surge um tanto quanto submisso à esposa, algo também diferente do filme anterior em que é retratado. Seria influência de Madonna na história? Afinal de contas, seu histórico demonstra a predileção por mulheres fortes e ela mesma buscou em W.E. um olhar mais voltado às personagens femininas, no sentido de valorizá-las.

Com problemas técnicos, especialmente na edição nos 20 minutos iniciais, W.E. peca pela obviedade e por ser confuso em certos trechos. Destaque para a curiosa ousadia na trilha sonora, com a inclusão de ritmos musicais variados e até mesmo incoerentes para a época retratada, como o punk que apenas surgiria na Inglaterra décadas depois. Fraco.