LOBO EM PELE DE CORDEIRO
por Roberto CunhaComédia dramática ainda é, para muita gente, um gênero sem uma definição clara. Se você faz parte deste time, este longa dos irmãos Mark e Jay Duplass é um legitimo exemplar para ilustrar esta questão.
Em Cyrus, John (John C. Reilly) é um cara problemático, deprimido e só dá fora. Separado da esposa (Catherine Keener) há sete anos, sua nova história começa no dia em que ele conhece Molly (Marisa Tomei) numa festa e, por incrível que pareça, descobre que pode ser sincero com ela sem medo de ser feliz. Só que a coisa muda de figura quando ele descobre que a mulher de seus sonhos tem, na vida, um homem que é um pesadelo: o filho especial (Jonah Hill) que dá nome ao filme. Igualmente direto e objetivo, o jovem esconde uma fixação e tem facilidade de manipular os sentimentos alheios. E é exatamente neste conflito entre “machos” pela fêmea amada que o longa destila todas as suas intenções, através de diálogos singelos ou situações desconcertantes, revelando uma trama simples, mas curiosa ao mesmo tempo. Até porque Cyrus, já adulto, diz entender que a mãe precisa de alguém para dar algo que ele não pode, mas não pretende compartilhar o amor da “mulher”.
Assim, transitando de maneira interessante entre os gêneros drama, comédia e romance, o roteiro dá sucessivas viradas na trama. E não será difícil você se pegar diante de uma expectativa sobre que vai acontecer no minuto seguinte. Até porque existe também um leve flerte com o suspense. A boa trilha sonora e os momentos de puro silêncio podem causar estranheza no espectador além, claro, dos enquadramentos altamente oscilantes (zoom in e out) e movimentos de câmera muito loucos (chicotes). Mesmo assim, as sequências do casal são encantadoras e conferem, como na cena em que a dupla canta “Don’t You Want Me”, do Human League, a mais pura emoção.
Com humor moderado e boas atuações do trio de atores, o resultado final é um filme agridoce onde o personagem principal é a mais pura tradução da expressão lobo em pele de cordeiro.