Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Os Instrumentos Mortais - Cidade dos Ossos

Fantasia adolescente

por Lucas Salgado

Os Instrumentos Mortais - Cidade dos Ossos chega aos cinemas tentando ocupar o espaço deixado por Crepúsculo e não preenchido por A Hospedeira e Dezesseis Luas. Traz uma jovem adolescente em meio a um triângulo amoroso disfuncional e em uma trama que envolve vampiros, lobisomens e, agora, demônios.

O longa é bem superior a Dezesseis Luas e possui o grande mérito de não se levar muito a sério. Não chega a ser assumidamente trash, mas, na medida do possível, reconhece os absurdos de sua trama através de algumas divertidas falas. Na verdade, até mesmo a fragilidade dos diálogos gera algumas brincadeirinhas que tornam o filme ao menos divertidinho, como quando Clary, personagem de Lily Collins, destaca: "Eu não me lembro de nada que minha mãe gostasse que eu esquecesse."

A trama envolve uma garota que vê um grupo de jovens matar um exótico homem no meio de uma boate lotada. Ela acha estranho que ninguém tenha visto o ocorrido e aos poucos começa a notar a presença de um símbolo estranho que só ela vê. De cara, o espectador percebe que sua mãe (Lena Headey) sabe de algo importante, mas evita dizer a verdade, que vai sendo descoberta aos poucos, tanto pela protagonista, quanto pelo público.

Clary acaba conhecendo Jace (Jamie Campbell Bower), que é o responsável por introduzir um novo universo na vida da personagem. Ele é um caçador de sombras que protege o mundo de criaturas sombrias, mas especificamente, os demônios.

Em meio a tudo isso, temos uma bruxa, na pele da típica reclusa que sabe de tudo (CCH Pounder), um lobisomem e vários caçadores de sombras, do bem e do mal. Apesar do universo funcionar, na medida que o filme assume logo de cara que tudo é possível, incomoda um pouco a forma pouco interessante e quase didática como tudo é passado.

Somos informados sobre como os seres não mágicos são chamados de mundanos (sério!) e ainda nos deparamos com um instituto que é uma mistura entre Hogwarts (Harry Potter) e a escola do professor Xavier (X-Men). Sem falar nos incontáveis flashbacks, que prejudicam o ritmo da narrativa e ainda causam uma exagerada duração de 130 minutos.

Collins é bonitinha e vai bem nas cenas em que contam com alguma ação. Mas na maioria das vezes, o que dá as caras é a falta de expressão que já havia aparecido em Espelho, Espelho MeuSem Saída. Neste sentido, a atriz foi até prejudicada pelo diretor Harald Zwart, que deixa a câmera parada algumas vezes diante de certas expressões vazias da atriz.

Além dos vários jovens atores, o elenco conta ainda com as presenças de Jonathan Rhys Meyers, na pele do vilão Valentine, e do ótimo Jared Harris, desperdiçado na pele de Dumbled..., digo Charles Xav..., quero dizer Hodge Starkweather, chefe do tal instituto de caçadores.

Em paralelo à história principal, em que Clary e os tais caçadores de sombras tentam encontrar a mãe dela, que foi raptada, nos deparamos com uma traminha romântica bem piegas e também prejudicada por escolhas da direção. Para terem uma ideia, a primeira cena romântica entre Clary e Jace é praticamente um videoclipe para promover a nova canção de Demi Lovato. A sequência está totalmente fora de lugar, sendo a primeira vez que uma música toca na produção.

Curiosamente, Os Instrumentos Mortais - Cidade dos Ossos fala muito pouco dos tais instrumentos mortais e passa correndo pela tal cidade dos ossos. Ainda assim, pode agradar aos fãs dos livros de Cassandra Clare, mas é pouco provável que o público comum se envolverá com a história, que ainda aborda de forma bem superficial temas como incesto e homossexualidade.

Piegas dos créditos iniciais aos finais, com direito a uma garota recebendo elogios do tipo "sabe quando eu disse que nunca tinha visto um anjo? Eu menti", o longa se assume como um projeto adolescente, razão pela qual não pode ser acusado de desonesto. Chega ao ponto de criar uma "chuva" do nada para que uma cena de beijo acontecesse debaixo d'água.

Mas isso não deixa de ser um problema... Quando se abraça o ridículo, ainda que fique autêntico, se alcança o ridículo.