Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Kaboom

Orgasmos e outras explosões

por Bruno Carmelo

Como produto cinematográfico, Kaboom é uma aberração. Diversão teen que não chega ao circuito comercial, esta produção conseguiu participar de festivais conservadores como Cannes, templo do "cinema autoral sério", onde teve recepção discreta. Este é um filme autoral e pop que não chega ao público autoral, muito menos ao público pop – que prefere consumir obras mais previsíveis como American Pie, por exemplo.

Assim, ele acabou passando despercebido, com bilheteria muito fraca internacionalmente, embora tenha uma proposta tão única e extrema que mereça ser visto. Entre o abismo que separa os blockbusters (Os Vingadores - The Avengers, Branca de Neve e o Caçador) das pequenas produções "de arte" (O Vendedor, Deus da Carnificina), existe Kaboom, que propõe uma "diversão de qualidade" – termo utilizado às vezes de maneira pejorativa, mas que parece apropriado neste caso.

A proposta tem o grande mérito de saber exatamente onde quer ir, sem fazer concessões para agradar, sem tentar entrar em tal faixa etária ou tal nicho comercial. O filme é excessivo, incoerente, trash, multicolorido, inconsequente. Todos os gêneros cinematográficos estão presentes: comédia, drama, suspense, policial, terror, ficção científica - e todos os gêneros e orientações sexuais também. Os personagens transam com homens, mulheres, vampiros e seres fantasmagóricos com o mesmo prazer. A plurissexualidade é tão aceita quando a assexualidade.

Kaboom é um dos melhores exemplos de cinema pós-moderno, hedonista – e feliz em sê-lo. O prazer é a única coisa que move estes jovens que não estudam nem trabalham, que não têm opinião política, nem religião. Eles fazem o que gostam, quando querem, nesta sociedade que parece não existir, não impor regras. Tudo no filme é assumidamente falso: os quartos, feitos em estúdio, são grotescos, os efeitos especiais são caseiros, a ameaça estelar e terrorista não tem o menor realismo, os computadores acendem sozinhos, com mensagens prontas para os personagens, enquanto os coadjuvantes abrem as portas e gritam "Teu pai foi sequestrado por tal pessoa, temos que ir para tal lugar", sem jamais dizerem de onde obtém essas informações precisas.

Ao contrário dos maus filmes comerciais, que deixam passar buracos no roteiro, este aqui faz dos buracos seu tema e seu objetivo. Tudo vale, tudo pode acontecer e, de fato, quase tudo acontece. Entre um grito de orgasmo aqui e um grito de medo acolá, os personagens flutuam de acordo com seus humores e sensações. Em Kaboom, o cinema assume seu papel sensorial e abandona as pretensões narrativas. Para quem estiver disposto a suspender durante 90 minutos as expectativas médias do cinema (não exigindo mais o prazer da coerência, nem da previsibilidade), esta produção fornece uma bela aventura, livre e despretensiosa, pelos caminhos alternativos da juventude e do cinema.