Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Bad Boys para Sempre

Abraçando a nostalgia

por Barbara Demerov

O que difere o segundo capítulo da franquia Bad Boys, lançado há 17 anos, e o terceiro, que chega aos cinemas em 2020? Além da ausência do cineasta Michael Bay, que rumou direto ao estrelato quando dirigiu o primeiro filme da franquia em 1995 (que também acaba por ser seu primeiro longa-metragem), é notável observar que Bad Boys Para Sempre segue por caminhos mais dramáticos se comparado ao enredo de seus antecessores. Há questões interessantes colocadas no filme dos diretores belgas Adil El Arbi e Bilall Fallah, como a dificuldade de Mike Lowery (Will Smith) admitir que está envelhecendo, a vontade de Marcus Burnett (Martin Lawrence) em se aposentar e abandonar de vez a violência, assim como a colisão de uma dupla que ainda vive, em termos, no passado. Mas muitas mudanças batem à porta.

O lema "nós andamos juntos, nós morremos juntos" se faz bastante presente neste capítulo das vidas dos policiais, pois além dele representar o valor dessa amizade, tudo é elevado à máxima potência quando Lowery sofre um atentado, o que impulsiona o destemido policial a procurar por vingança. É neste acontecimento que está toda a essência de Bad Boys Para Sempre: a necessidade de saber a hora de parar, mas também a de revisitar os velhos tempos antes de dar um adeus definitivo.

Em um ano que também ganhará o retorno de outro clássico de ação, Top Gun (que, por acaso, tem como produtor Jerry Bruckheimer, o mesmo de Bad Boys), é mais do que claro que Hollywood sabe muito bem porque reinveste em histórias que já possuem um "fim" e não requeriam uma sequência para deixar as coisas mais claras. Afinal, a nostalgia gera bastante curiosidade, seja daqueles que acompanharam determinadas aventuras na época em que foram lançadas, ou após isso, quando o selo "clássico moderno" já havia sido aplicado.

Logo, Bad Boys Para Sempre abraça forte a nostalgia que habita em Mike e Marcus – e, mesmo com as já conhecidas sequências em que o sentido não é lá a prioridade, o longa consegue manter uma importante dose de coerência. Tal elemento se encontra na trama que procura costurar as vidas da dupla enquanto policiais e enquanto civis, inclusive dando mais atenção ao drama pessoal de Mike. O fato de o personagem nunca ter formado uma família ou construído uma rotina fora as perseguições e prisões de criminosos em Miami pesa bastante aqui, inclusive na ideia de Marcus em se afastar da polícia para viver ao lado de sua mulher, filha e neto com tranquilidade. A própria cena de abertura do longa faz questão de estabelecer que o 8 ou 80 da vida de um policial precisa ser deixado de lado em algum momento.

Dando menos atenção a estereótipos e mais atenção a personagens de novas gerações (que inclui as boas participações de Vanessa Hudgens e Paola Nuñez), o roteiro garante uma experiência de nuances; ora a história recai mais para a comédia e a incrível dinâmica entre Smith e Lawrence, ora para o lado sentimental. Ambos os extremos funcionam quando não se apegam a excessos, mas ainda assim é impossível se desvencilhar disso, uma vez que os vilões da vez (interpretados por Kate del Castillo e Jacob Scipio) estão diretamente ligados ao passado de um dos policiais.

Fora a pressa em tratar certas questões do enredo no último ato, que ganhariam ainda mais peso dramático se executadas de forma mais cuidadosa, Bad Boys Para Sempre surpreende por se ater a uma trama concisa e centrada nos dois protagonistas. Ao invés de diversos criminosos e locações exuberantes para tornar a história mais megalomaníaca (que, convenhamos, Michael Bay sempre busca priorizar em seus filmes), aqui vemos um cenário mais pessoal, com consequências que realmente os afetam profundamente. É bom rever Will Smith e Martin Lawrence e tanto carisma originado de diálogos bem-humorados, mas ver um resultado maduro e pé no chão é ainda melhor – claro, dentro do que este universo policial de Miami consegue nos proporcionar.