Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
A Garota da Capa Vermelha

CHAPEUZINHO QUEIMADO

por Lucas Salgado

A Garota da Capa Vermelha está para a fábula da Chapeuzinho Vermelho da mesma forma que Crepúsculo está para as histórias de vampiros. A fórmula é simples: pega-se uma história clássica e recheia-se com adolescentes bonitinhos, diálogos sofríveis e uma trilha sonora equivocada. E para comandar tudo isso foi escolhida justamente a responsável pelo primeiro longa da série baseada nos livros de Stephenie Meyer: Catherine Hardwicke.

Após iniciar sua carreira de forma promissora com Aos Treze, a cineasta ingressou em uma fase infeliz, que agora parece sólida ao ponto de deixar de ser considerada uma fase. Após Os Reis de Dogtown, Jesus - A História do Nascimento e Crepúsculo, Hardwicke acaba assumindo a versão para os cinemas da fábula da Chapeuzinho Vermelho e comprova de uma vez por todas que é uma péssima diretora.

A intenção de se fazer um novo Crepúsculo foi tão clara que a diretora tratou inclusive de convidar Taylor Lautner (Idas e Vindas do Amor) para interpretar Peter no filme, o que só não foi possível em razão da agenda lotada do astro. O papel acabou com Shiloh Fernandez (Cadillac Records), que não se sai bem. Ou melhor, que se sai bem para o que queria Hardwicke, mas que vai muito mal para quem paga ingresso para assistir um filme. O ator ainda está no início de sua carreira, então é possível que venha a evoluir com o tempo, mas é inegável que seu primeiro papel de destaque deixou uma péssima impressão.

Talvez os dois únicos motivos para se assistir Red Riding Hood (no original) sejam os olhos de Amanda Seyfried (Mamma Mia! - O Filme). É difícil não ficar vidrado nos belos olhos azuis da atriz e sabendo disso, a direção de fotografia faz questão de explorá-los ao máximo. Infelizmente, em termos de atuação, Seyfried não cumpre o prometido em seu olhar e também decepciona.

Seyfried nos entrega uma performance nada memorável, se saindo infinitamente pior do que em seus últimos trabalhos - com exceção de Garota Infernal, que é tão ruim quanto este. Ela não apresenta a graciosidade de Cartas para Julieta e nem a sensualidade de O Preço da Traição, elementos que cairiam muito bem por aqui.

Max Irons (O Retrato de Dorian Gray), Julie Christie (Longe Dela), Virginia Madsen (Evocando Espíritos), Billy Burke (Fúria Sobre Rodas) e Gary Oldman (Batman - O Cavaleiro das Trevas), sendo este último o único digno de destaque. Seu personagem não é necessariamente interessante, mas o ator é sempre capaz de entregar boas atuações mesmo em filmes ruins (vide O Livro de Eli).

A Garota da Capa Vermelha gira em torno de Valerie, uma bela garota que é apaixonada por Edward, ou melhor, Peter, mas está prometida em casamento à Jacob, digo, Henry. Inconformada com a situação, a jovem planeja fugir com o amado, mas acaba adiando seus planos quando um lobisomem começa a perturbar seu vilarejo. A ideia de fazer uma nova versão da história da chapeuzinho vermelho para os cinemas é boa, assim como a opção por transformar o lobo mau em um lobisomem, mas tudo foi feito com tamanho descaso e com intenções tão deturpadas que o tiro acabou saindo pela culatra.

Repleta de pontos negativos, a produção também falha muito no que diz respeito à edição e trilha sonora. As editoras Nancy Richardson (A Saga Crepúsculo: Eclipse) e Julia Wong (Maré de Azar) fazem um péssimo trabalho no longa, apresentando informações de formas desconexas e optando em alguns momentos por uma narração em off totalmente equivocada. É claro que o roteiro não ajuda em nada, mas a edição deveria ter sido feita com muito mais cuidado. O mesmo se pode dizer da trilha, principalmente no que diz respeito às canções escolhidas para o filme. As músicas presentes na trilha confirmam o caráter teen que tentaram dar ao filme e comprova ainda a falta de tato cinematográfico dos realizadores.

O maior receio com relação à A Garota da Capa Vermelha é que este consiga se tornar um novo Crepúsculo como pretende. Felizmente, os resultados de bilheteria, ao menos nos Estados Unidos, mostram que isso não deve acontecer (arrecadou míseros US$ 36,9 milhões nas bilheterias norte-americanas).