O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida: Crítica AdoroCinema

Sejamos diretos: como O Lórax – Em Busca da Trúfula Perdida pretende ser, assumidamente, uma lição de moral às crianças, analisar este filme implica analisar acima de tudo a moral veiculada. Sem tentar agradar também aos adultos com referências a outros filmes, nem temas maliciosos ou complexos (como faziam Shrek da Dreamworks, Wall-E da Disney-Pixar), O Lórax tem apenas uma mensagem simples a passar: é preciso amar a natureza, senão o mundo está perdido.

Por que é preciso amar a natureza? Boa pergunta. Uma primeira resposta seria de ordem estética: para as crianças se sensibilizarem às florestas retratadas, estas são assimiladas ao imaginário de uma loja de doces. As árvores são multicoloridas, com topos semelhantes a algodão-doce e troncos em palitos de pirulito. A natureza não é definida pela cor verde característica, mas pelos tons quentes: amarelos, rosas, vermelhos, laranjas. Todo o horizonte é composto por formas belas, lisas e arredondadas – sem aspereza, justamente.

Outra razão para se amar a natureza é o interesse próprio. O garoto Ted deseja encontrar uma semente de árvore real apenas para impressionar uma garota. É por isso que ele está disposto a romper com o mundo ditatorial em que vive, onde tudo é feito de metal e plástico. O amor vence barreiras – e pelo jeito sensibiliza à ecologia também. Uma última razão é dada de maneira discreta por um personagem: "As árvores produzem ar puro". Apesar da importância evidente da fotossíntese, uma simples aula de biologia basta para informar que a maioria do ar produzido pelas árvores é utilizada por elas mesmas, para respirarem. Neste sentido, o verdadeiro "pulmão do mundo" seriam as algas marinhas, que produzem muito mais oxigênio do que respiram...

Mas pouco importa, este é um filme ecológico que não se preocupa com a biologia, longe disso. Sua intenção não é material, mas moral. Neste mundo em que curiosamente os jovens não têm amigos, as famílias não têm figuras paternas e as mães não manifestam amor pela própria progenitura, o lema "ame o próximo" é aplicado às árvores. Por isso cria-se um imaginário idealista, neo-hippie, onde a natureza vive em harmonia, mas de maneira intocada, puramente decorativa. No mundo real, índios e outras comunidades estabelecidas em plena natureza sempre utilizaram a madeira, as folhas e os frutos, mas a natureza de O Lórax é tão bela quanto inútil, intocável. "Por favor, não corte as árvores, nós precisamos delas", grita O Lórax, guardião da floresta, a um humano. Mas ele nunca explica o porquê. Talvez ele mesmo não o saiba.

Nesta natureza plácida e fetichizada, o grande inimigo é mesmo o dinheiro. Nada mais irônico do que ver uma grande produção hollywoodiana reunir, numa única cena musical de cinco minutos, todos os estereótipos possíveis do "perigo capitalista": o humano corta árvores, enriquece com o tecido de suas copas, e imediatamente torna-se arrogante, individualista, hedonista. Enquanto isso os ursos, patos e peixes tentam viver em paz na natureza que resta, mesmo que o roteiro construa seu humor principalmente através de traquitanas mecânicas (a casa fora da cidade) e da eletricidade (as árvores que acendem, os ursos elétricos). Parece que esse ideal utópico da vida puramente natural não consegue ser levado a sério pelo próprio roteiro... A fuga de um modo de vida consumista para a pacífica vida em falanstério está muito longe de se concretizar.

Assim como a moral, o humor do filme comunica especialmente com as crianças pequenas, o que implica incluir dezenas de pequenos sons agudos e personagens que tropeçam e caem a cada dois minutos. Mesmo sem uma religiosidade explícita, o filme pretende doutrinar os pimpolhos com valores cristãos básicos, investindo o Lórax da função de única figura paterna presente neste universo, que desce diretamente dos céus para dar palavras sábias, sem jamais punir os culpados. Este senhorzinho barbudo representa uma figura divina, protetora e misericordiosa. Diante desta natureza abstrata, irreal e asséptica, os pequenos que se indagarem porque raios deveriam amar as árvores sairão da sessão com a resposta típica dos pais impacientes: Porque sim.