GENÉRICO COM EFEITOS COLATERAIS
por Roberto CunhaInspirado num livro de um ex propagandista de laboratório (!?), aquela turma com malas repletas de drogas legais, este filme é um exemplar sui generis não só por este aspecto, mas por muitos outros. Um deles é a indefinição do gênero.
Prescrito como comédia romântica, a produção aborda temas variados e um deles é tão delicado, que resumir tudo na dobradinha amor/humor, que faz sucesso, parece coisa de bula mal escrita.
A história se passa mais para o final dos anos 90, quando os remédios nos Estados Unidos passaram a ser anunciados e vendidos direto ao consumidor. Na trama, Jamie (Jake Gyllenhaal) é um cara "pegador", do tipo irresistível, que vai botar esse talento a serviço da indústria farmacêutica. Como representante de um grande laboratório, ele passa a conviver com a sordidez da função, inserindo em sua rotina uma série de atos de moral duvidosa para que seus remédios vendam: “Seu trabalho será salvar vidas. Bem vindo ao novo mundo”, ouviu ele em um treinamento de vendas.
Durante uma visita, ele conhece a paciente Maggie (Anne Hathaway), que sofre de Mal de Parkinson, e se sente atraído por ela. Após o desprezo num primeiro momento, a insistência acaba sendo remediada com uma transa rápida “para aliviar”, naquele estilo "preliminares pra que" de Hollywood. Só que a tal aliviada se repete por dias e vai viciando seus “usuários” até a hora em que eles percebem, cada um no seu tempo, que existe algo mais nessa relação.
Estrelado por dois jovens astros em ascensão e com boa química em cena, o longa foi dirigido por Edward Zwick, de títulos distintos como o longínquo Sobre Ontem à Noite... e grandiosos como O Último Samurai. Mas essa experiência em grandes produções não atrapalhou o resultado mais intimista.
As cenas do casal são convincentes, sedutoras, a nudez de ambos é explorada com o devido valor e assuntos correlatos à cama como “falhar” ou ir ao banheiro na hora H são bem retratados. O destaque vai para as cenas filmadas pelos personagens em preto & branco, e também para a hora em que um deles passa mal antes de uma declaração.
O problema mesmo foi o mergulho no drama da doença. Isso desviou o foco e enfraqueceu o humor, até quando ele tem graça, por exemplo, na figura do irmão vivido por Josh Gad. Outra coisa ruim foi o agressivo merchandising das marcas, sem contar o da famosa pílula azul. Mas valeu o contraponto oferecido no escancaramento das orgias disfarçadas de convenção, da relação médico x paciente x remédios e do sistema de saúde como um todo.
Assim, Amor & Outras Drogas pode deixar um gosto amargo em quem procura um roteiro mais bem amarrado, mas vai agradar aqueles que encontram o riso fácil em piadas fálicas, resultado de um filme que se perdeu entre o engraçado e o dramático, virando um genérico com efeitos colaterais.
Assista o trailer em Amor & Outras Drogas.