ORDINÁRIO E GENIAL
por Lucas SalgadoPaul Haggis é um diretor e roteirista que pode ser taxado de pretensioso. Seus filmes sempre querem algo a mais do que entreter o espectador. Isso pode ser algo bom, como vimos em Menina de Ouro (o roteiro é seu) e Crash - No Limite, mas também pode sair pela culatra, como acontece em No Vale das Sombras.
Em 72 Horas, no entanto, podemos conferir o cineasta canadense praticamente se entregando ao cinema-entretenimento de Hollywood, criando um thriller de ação de boa qualidade.
É claro que o roteiro conta com uma série de posicionamentos que talvez, no fundo, busquem levar à uma reflexão. Mas na verdade, é fácil acreditar que tais pontos tenham sido colocados na trama apenas para Haggis enganar sua consciência e fingir que não está realizado algo próximo do cinema-pipoca.
Com roteiro e direção de Haggis, The Next Three Days (no original) talvez seja a produção mais ordinária do diretor - isso se não contarmos 007 - Quantum of Solace, cujo roteiro é dele -, mas até por isso é uma das mais interessantes. E o grande responsável por isso é o personagem principal, um sujeito simples que vê seu mundo virar de ponta cabeça após a prisão da esposa.
Vivido brilhantemente - como de costume - por Russell Crowe (Uma Mente Brilhante), John Brennan é o retrato do próprio filme, ordinário e genial. Ao mesmo tempo em que lida com a rotina de ser pai e professor, ele também coloca na pauta um plano mirabolante para tirar sua esposa da cadeia.
O filme é bem sucedido ao fazer a transição do sujeito simples à mente do crime e não perde ritmo nem em seus momentos mais pacatos. São mais de duas horas de projeção, mas será difícil alguém se cansar do longa.
Obviamente, 72 Horas não é nenhuma obra-prima, mas o melhor é que não pretende ser.
Elizabeth Banks (Pagando Bem, Que Mal Tem?), Liam Neeson (Esquadrão Classe A) e Olivia Wilde ("House") completam o elenco da produção, sendo que a última tem o papel menos interessante do filme. Com os papéis de destaque em grandes filmes como Tron - O Legado e Cowboys and Aliens, será bem difícil ver Wilde daqui pra frente com uma personagem tão insignificante para a trama. Parece que a única função da atriz no longa é exibir seus belos olhos, no que se sai muito bem, obviamente.
É curioso notar que algumas pessoas interpretaram o longa como um guia do criminoso iniciante, até por mostrar algumas técnicas aprendidas na internet, mas a intenção é apenas contar a saga daquilo que um homem comum é capaz de fazer por sua família. Neste sentido, é curioso notar o quanto a discussão se a mulher é ou não inocente fica em segundo plano.
Um dos principais valores da produção está em sua trilha sonora composta por Danny Elfman e Alberto Iglesias. A música segue o ritmo do longa em 72 Horas, sem em nenhum momento roubar a cena da trama principal. A montagem de Jo Francis também merece destaque, principalmente no terço final do filme, em que consegue muito bem criar a dinâmica de gato e rato.