Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Wolverine: Imortal

O lado trágico do herói

por Francisco Russo

Wolverine é, disparado, o mutante mais famoso da Marvel e também uma das personificações mais fiéis nas telas de cinema. Desde o primeiro X-Men, Hugh Jackman conquistou o público com sua caracterização deste herói meio torto, que ao mesmo tempo possui um forte senso de justiça e um lado irascível e violento - este último bem mais explícito nos quadrinhos, é verdade. Figura constante nos filmes estrelados pela equipe mutante - nem que seja em uma mera ponta, como acontece em X-Men: Primeira Classe -, Wolverine retorna às salas escuras em sua segunda aventura solo deixando para trás os problemas existentes pelo filme anterior, X-Men Origens: Wolverine. A começar pelo grande salto no tempo existente entre ambos: se o primeiro mostrava como o herói ganhou o esqueleto recoberto de adamantium, antes mesmo de entrar para os X-Men, este acontece bem depois, após os eventos de X-Men - O Confronto Final. Entretanto, esta é apenas a menor das diferenças entre os dois filmes.

Ao contrário de X-Men Origens: Wolverine, em Wolverine: Imortal o clima é bem mais pesado e soturno. Tudo graças ao momento de vida do próprio herói. Depressivo por ter matado Jean Grey (Famke Janssen), o grande amor de sua vida, ele decide viver isolado de todos. Este novo longa-metragem investe em um lado até então inédito para o personagem, ao trabalhar o lado trágico do herói. Sem poder morrer, já que possui um fator de cura poderoso, nada mais resta a Wolverine senão vagar mundo afora sem grandes expectativas. É claro que esta “maldição” não é aprofundada em termos de roteiro, mas serve de pretexto para toda a história que vem a seguir. O que, por si só, já significa uma baita reviravolta em relação ao filme anterior.

Entretanto, apesar deste novo longa ser mais fiel ao Wolverine dos quadrinhos, o filme como um todo não traz o tom épico presente em boa parte dos filmes dos X-Men. Por mais que sejam aventuras com o objetivo de entreter o espectador, os filmes da série sempre abordam temas importantes envolvendo o preconceito com o diferente, que servem como pano de fundo para a trama. Wolverine: Imortal não tem esta pretensão, o que traz a ele uma certa banalidade, como se fosse “apenas mais uma aventura de Wolverine”. Ainda assim, o longa-metragem se sai bem graças à compreensão da essência do herói. Baseado no arco de histórias nos quadrinhos em que Wolverine viveu no Japão, o filme traz vários elementos desta trama sem, no entanto, repeti-la nas telonas. Apesar de tomar liberdades importantes – o Samurai de Prata é uma das principais -, o longa consegue manter o clima existente nos quadrinhos, algo essencial para não descaracterizar o herói.

Wolverine: Imortal traz ainda duas características que chamam bastante a atenção. A primeira delas é a boa quantidade de momentos cômicos envolvendo o herói e suas particularidades, algumas de fazer gargalhar mesmo. Outra é o controle existente para que o filme seja sombrio sem se tornar pesado demais ao ponto de aumentar sua classificação etária – algo que pode ser desastroso financeiramente para um filme cujo público, na maioria, é formado por jovens. Ou seja, o longa até conta com - algumas - cenas mais fortes, mas estas geralmente são encobertas pelas sombras ou com pouquíssimo sangue em cena. A própria raiva de Wolverine até vem à tona em determinados momentos, mas sempre amenizada de alguma forma para que o personagem não cruze a barreira do (politicamente) tolerável. O melhor exemplo é seu encontro com o noivo de Mariko no apartamento dele.

Como um todo, Wolverine: Imortal é um filme correto que respeita o fã do herói ao adaptar uma de suas histórias mais famosas dos quadrinhos sem que esta perca a sua essência. Por mais que não chegue perto da qualidade de X-Men, X-Men 2 e X-Men: Primeira Classe, é um filme que diverte dentro de suas limitações, tanto de efeitos especiais quanto de classificação etária. Destaque para, mais uma vez, a boa presença de Jackman como Wolverine e também para Rila Fukushima como Yukio, uma personagem que deixa um gostinho de quero mais ao término da sessão. E aos apressados de plantão, um aviso: há uma importante cena pós-créditos finais, repleta de significados para quem conhece a história dos X-Men nos cinemas e nos quadrinhos.