Críticas AdoroCinema
0,5
Horrível
Lembranças

Apenas para Fãs

por Francisco Russo

Sucessos do quilate de Crepúsculo fatalmente transformam seus atores em astros da noite para o dia, sejam eles veteranos ou novatos. No caso em questão, Kristen Stewart e Taylor Lautner ao menos já possuíam alguma bagagem cinematográfica, mesmo que breve. Robert Pattinson era quase um iniciante, tendo como destaque único sua participação em Harry Potter e o Cálice de Fogo. Era necessário expandir sua abrangência, o que fez com que procurasse filmes em que pudesse explorar a recente fama e também exercitar seu "talento". É, entre aspas mesmo. Pois, assim como acontece nos filmes baseados na saga da autora Stephenie Meyer, em Lembranças ele demonstra claramente suas limitações. E este é o maior defeito do filme.

O início é até promissor. Uma mulher e sua filha estão na estação de trem e são assaltadas por dois homens. A situação aterroriza a criança, que presencia o assassinato da mãe. Dez anos se passam e ela já tem 21 anos, sendo agora personificada pela linda Emilie de Ravin. Seu pai (Chris Cooper) a trata como se fosse uma eterna criança, usando até mesmo suas facilidades como policial para exercer um intenso controle. Trauma do que aconteceu no passado, com certeza.

Pano rápido para a outra ponta da história. Tyler (Pattinson) vive às turras com o pai (Pierce Brosnan, no piloto automático), já que ele mal dá atenção à família. Ele também possui um trauma do passado, o suicídio do irmão mais velho, e mora com Aidan, um amigo. Um dia, ao sair de uma boate, a dupla se mete em uma briga. Quem aparece para cuidar da situação é o personagem de Chris Cooper, que os coloca na cadeia. Ao sair, Aidan por acaso descobre que Ally (Ravin) estuda no mesmo local que eles. Surge então a proposta de que Tyler tente conquistá-la, para se vingar do pai dela. Reticente, ele aceita.

A partir de então o caminho é conhecido: eles se apaixonam perdidamente e precisam enfrentar o enorme obstáculo que é a descoberta por Ally de que nada mais é do que parte de uma trama de vingança. Nada muito diferente de inúmeros romances, onde o amor surge e é posto à prova. A falta de originalidade não seria um problema caso a trama fosse envolvente, o que não acontece. Pattinson mais uma vez é inexpressivo, fazendo um estilo meio desleixado que tem se tornado sua marca registrada ultimamente. Mesmo nas cenas em que é exigido um pouco mais de seu personagem, como na discussão com o pai em plena sala de reuniões, é nítido o vazio que deixa em cena. É alguém interpretando a situação, mas jamais alcançando a intensidade que o momento exige. São momentos como este que definem quem realmente tem talento e quem é apenas um rostinho bonito.

O desenrolar da história é também marcado pelas infantilidades dos personagens de Cooper e Pattinson. De certa forma chega a ser natural a posição de Cooper, por ser pai, mas seus atos também estão exagerados dentro do contexto. Já Pattinson leva a vida como quer, fazendo a pose de jovem revoltado que é bancado integralmente pelos pais. Um contrasenso que, apesar de ser citado por Brosnan no filme, não é aprofundado. Assim como pouco é explorado o trauma apresentado logo no início do filme, que não traz repercussão alguma à personagem de Emilie de Ravin. Sem falar nas inúmeras licenças poéticas que o filme exige, pela resolução de situações como num passe de mágica. O súbito guarda roupa de Ally, mesmo sem ir até sua casa, é um deles.

Lembranças é um romance tedioso, que no máximo agradará as fãs de Robert Pattinson. Não por sua atuação, mas pela simples presença em cena. Só que, neste caso, qualquer trabalho que o ator fizesse já seria suficiente. Para quem espera mais de um filme, há ainda outro motivo para fugir dele: o final apelativo, que tenta usar uma situação real para trazer uma carga de dramaticidade aos personagens. Não deu certo. De novo.