Um Looooongo Filme
por Francisco RussoEm recente passagem pelo Rio de Janeiro, o diretor Michael Bay admitiu que Transformers - A Vingança dos Derrotados, o segundo filme da série, tinha problemas. Quando alguém do porte de Bay faz uma afirmação do tipo é que a situação estava preta. Sequências de ação confusas, tramas demais, personagens dispensáveis e cenas beirando o ridículo – o que dizer quando um transformer sobe na perna de Megan Fox, como se fosse um cachorro? – era tudo o que não se queria no novo filme, pelo bem da série. Isto Michael Bay conseguiu. Transformers: O Lado Oculto da Lua é muito melhor que seu antecessor. O que não significa que seja um bom filme.
O problema maior está em uma característica do diretor. Michael Bay é conhecido pelas cenas de ação, por diversas vezes empolgantes e bem feitas, só que costuma pecar pelo exagero. Com exceção de sua estreia no cinema, Os Bad Boys, todos seus filmes ultrapassaram as duas horas de duração. Nada contra filmes longos, desde que tenham conteúdo para tanto. Quando isto não acontece o resultado é o cansaço. Do espectador e da própria história, que se arrasta até o derradeiro fim. É este o grande revés de Transformers: O Lado Oculto da Lua, um filme de excelência técnica e clima envolvente, mas que cansa justamente pelos seus 157 minutos de duração.
A história começa com uma volta no tempo e pelo espaço. O destino é Cybertron, o planeta dos Transformers, que está em plena guerra civil. Cenas de batalha dão um clima de Star Wars, que empolgam ainda mais graças ao efeito 3D. Infelizmente, dura pouco. Uma nave fugitiva é abatida e cai na Lua. Os humanos, ainda na década de 50 do século passado, decidem que precisam ir até lá para ver o que está acontecendo. É o início da corrida espacial, reescrita para se adequar ao universo do filme. Até aí tudo bem contado e conciso, sem excessos. É a partir de então que começa a desandar.
São duas as tramas em desenvolvimento, uma focada em Sam Whitwick (Shia LaBeouf, correto) e outra nos Autobots. Já formado na universidade, Sam agora enfrenta a árdua batalha em busca do primeiro emprego. Com uma medalha de heroi na estante, ele mora com sua nova namorada, Carly. A mudança não é apenas de nome – ou de corpos –, mas também de conceito. Por mais que haja uma nítida exploração de Rosie Huntington-Whiteley, com enquadramentos sensuais e o uso repetido de roupas brancas, de forma a melhor delinear o corpo da ex-modelo, não há a vulgaridade exalada por Megan Fox a cada cena. Ou seja, atrizes diferentes com enfoques distintos. Mais do que apenas substituir Fox, Rosie coloca sua identidade e dá conta do recado. Não chega a brilhar, mas também não decepciona. Para um filme de estreia e a função que sua personagem tem na trama, até que se sai bem.
Pelo lado dos Autobots, a missão é ir à Lua e resgatar um antigo comandante e as cápsulas que protegia. É claro que os Decepticons estão à espreita, aguardando o melhor momento para atacar. Desta vez mirando a vitória definitiva, o que dá ao filme um clima épico bacana. O problema é que, por mais que haja a importância de ser o futuro da Terra sendo definido, tudo demora demais a acontecer. Desta forma subtramas são estendidas, personagens entram na história quando o filme já passou da metade e cenas gratuitas são inseridas, em certos casos até bem feitas mas que pouco acrescentam. Menos seria mais.
Transformers: O Lado Oculto da Lua é filme para ver em tela (bem) grande e com som caprichado. Faz diferença, principalmente nas sequências de ação. Todas com o selo Michael Bay de qualidade, com destaque para a cena solo de Bumblebee se transformando no ar e a fuga do prédio em destruição, escorregando pelos vidros. Há ainda momentos que irão mexer com os fãs da série, por envolver personagens queridos e seus possíveis destinos. Pena que tamanho esforço técnico seja prejudicado pelos excessos do roteiro e do próprio diretor, que perdeu o tempo exato de duração da história. Um filme apenas razoável, que se por um lado impressiona pela beleza visual por outro decepciona pela narrativa e sua duração.