Críticas AdoroCinema
3,0
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A Saga Crepúsculo: Eclipse

Temperaturas

por Francisco Russo

Uma antiga brincadeira, bem comum na era pré-internet, fazia com que algo fosse escondido e alguém tivesse que encontrá-lo. À medida que se aproximasse era dito que a pessoa estava quente ou frio, dependendo da proximidade do objeto. Se esta mesma situação fosse aplicada em relação ao sucesso de um filme, poderia ser dito que A Saga Crepúsculo: Eclipse está fervendo. Afinal de contas, o culto em torno do universo criado pela autora Stephenie Meyer é fiel e composto por milhões de fãs, mundo afora. O sucesso já era garantido, o que não assegura que o filme seja automaticamente bom. Afinal de contas, faturar alto não é sinônimo de qualidade.

Curiosamente, o trunfo da trama do terceiro filme da série é uma brincadeira bem sacada com a diferenciação entre quente e frio. A história gira, mais uma vez, em torno do trio amoroso formado por Bella, Edward e Jacob. A animosidade anunciada em Lua Nova chega agora ao seu limite, com Edward e Jacob trocando diversas provocações. É aqui que entra a brincadeira. É comum dizer que, quando alguém é desejável, ele é quente. O maior desejo de Bella é o vampiro Edward, cujo corpo é... frio. Não apenas isto, por ter centenas de anos Edward conserva ideais conservadores. Se por um lado podem ser considerados antiquados diante dos dias atuais, por outro trazem consigo uma aura de respeito que há muito foi esquecido. É o romantismo, a mola mestra da série, mostrando seu cartão de visitas.

Por outro lado, há Jacob. Com seu lado animalesco, corpo quente, desfilando sem camisa em vários momentos. Atração natural para boa parte das adolescentes - os gritos histéricos nas sessões não me deixam mentir -, pela atração física que proporciona. Com Bella não é diferente. Tudo bem que não se trata apenas de uma questão de pele, devido ao histórico de amizade e carinho existentes, mas ela não deve ser desconsiderada. Há ainda um importante fator, dentro do universo da série, que é o futuro de Bella. Entre morrer como humana e viver como vampira, caso escolha Edward, ou permanecer como está, se Jacob for o escolhido. A adolescência é época de errar, como é bem lembrado na formatura. Mas até que ponto um erro é válido para definir sua vida para sempre?

A resposta a esta pergunta é o que norteia Eclipse. Todo o resto, da aparição dos recém-criados ao duelo com Victoria, serve apenas de pretexto para que as dúvidas em torno da questão sejam trabalhadas. E dá-lhe cena de ciúme envolvendo o trio, na intenção de acentuar esta questão. Algumas divertem, outras soam gratuitas e até mal explicadas. Um claro exemplo é a cena da barraca.

Como foi prometido desde a contratação do diretor David Slade, Eclipse possui um clima sombrio permanente. Esta tensão auxilia as cenas de luta, brutais mas que raramente exibem sangue. Pode-se notar também um sentimento mais seguro envolvendo os protagonistas, ainda bastante intenso mas sem a empolgação exibida nos filmes anteriores. Algo de certa forma natural, já que os envolvidos agora têm uma melhor noção sobre aquilo que sentem.

Eclipse é um filme de nível bastante parecido com Lua Nova. Peca pelo excesso em algumas cenas, descartáveis dentro do que o filme se propõe, como o encontro com a mãe de Bella e a perseguição a Victoria nas margens do rio. O trio protagonista mais uma vez demonstra limitações. Kristen Stewart e Taylor Lautner estão mais à vontade em seus personagens, mas Robert Pattinson novamente está inexpressivo. Nada de novo, afinal de contas a qualidade do elenco nunca foi o forte da série.

Eclipse não é ruim, mas está muito longe de merecer a consagração que tem recebido. Assim como toda a série, ao menos no cinema. Um filme mediano, com boa ambientação e trilha sonora, que entretém em alguns momentos. Fica agora a expectativa para que, nos capítulos derradeiros da saga, enfim Dakota Fanning tenha uma participação condizente com sua capacidade. Afinal de contas, aqui mais uma vez a sensação que fica é a de desperdício da atriz.