Críticas AdoroCinema
5,0
Obra-prima
A Origem

Fascinante Nolan

por Francisco Russo

Em 2000, Christopher Nolan surpreendeu o mundo ao lançar Amnésia. Seu grande atrativo era a engenhosidade de roteiro e edição, que permitia que a trama fosse contada, literalmente, de trás para frente. Era um exercício de talento de um diretor ainda iniciante e, ao mesmo tempo, um desafio aos espectadores. Uma década depois, Nolan repete a proeza com A Origem. Só que em níveis bem mais ousados.

A Origem é, acima de tudo, um filme de diretor. Esta afirmação pode parecer estranha diante da grandiosidade do exibido, mas certos detalhes a confirmam. Um deles é a complexidade do roteiro, envolvendo o mundo dos sonhos em diversos níveis, e o ritmo acelerado com o qual as informações pouco a pouco são transmitidas. Outro é a engenhosidade no lado visual, visto em cenas impactantes como a Paris com as ruas sobrepostas e a luta com o corredor girando. Momentos que demonstram a segurança e ousadia de Nolan e, mais ainda, sua capacidade de criação.

Criação, sim. Há em A Origem momentos que deixam o espectador de queixo caído, com o inevitável questionamento de como aquilo foi feito. E não se trata apenas do lado plástico de uma cena, mas também de seu significado. Christopher Nolan conseguiu proezas do porte de tornar palpável uma situação abstrata, como a implantação de uma ideia na mente de uma pessoa. Afinal de contas, é esta a missão da equipe liderada por Cobb (Leonardo DiCaprio, competente). Mas como tornar isto possível? A maneira como a missão acontece surpreende não apenas pelo desenrolar dos fatos como também pelo modo encontrado para plantar uma ideia inexistente até então. É usado um artifício engenhoso, que valoriza muito o roteiro.

Para tanto, o filme conta com mensagens transmitidas ao longo de sua primeira metade, de forma que o espectador compreenda melhor o universo apresentado. Algo tipo "a ideia é o maior parasita existente", essencial para o posterior "a ideia nasce pequena e cresce aos poucos". Ou "a dor está dentro da mente" e "uma reação positiva sempre supera uma negativa". Por outro lado, a dualidade entre realidade e sonho faz com que, de certa forma, A Origem lembre Matrix. Pela complexidade da trama e a existência de mundos paralelos, onde os personagens são capazes de atos impossíveis em condições normais.

A Origem é um filme fascinante, que lida com o que há de mais íntimo na mente humana: as lembranças. É a partir delas que nos tornamos quem somos e, sabendo disto, Nolan desenvolveu um roteiro que não apenas corrompe esta individualidade como também a manipula. O lado ético deste ato não é analisado, mas é inevitável não pensar nisto. Assim como em questões como se iludir com a felicidade, mesmo sabendo que ela é irreal, e o quanto isto é necessário para seguir em frente. Tudo isto entremeado com cenas de ação empolgantes, protagonizadas por um elenco coeso e seguro. Excelente filme, que com certeza estará na disputa do Oscar 2011.