Mais do mesmo
por Lucas SalgadoLançado em 1987, Predador veio na carona dos dois primeiros filmes da série Alien, num mundo que em alienígenas estavam na moda e o cinema de ação em seu momento pleno. Colocando o maior astro de ação da época, Arnold Schwarzenegger, que havia acabado de alcançar a fama global com Conan, o Bárbaro e, principalmente, O Exterminador do Futuro, em uma floresta selvagem caçando uma raça estranha de fortes alienígenas, o filme garantiu o sucesso de bilheteria e uma legião de fãs.
Três anos mais tarde, em 1990, Predador 2 - A Caçada Continua buscou revisitar o universo, mas o mundo aqui de fora já era diferente e aliens e porrada já não eram novidade. Ninguém “comprou” de fato essa sequência e o fracasso nas bilheterias parecia enterrar a franquia de vez. Agora, 20 anos mais tarde e após mais duas tentativas de trazer o mostro de voltar às telonas (nos fracos Alien vs. Predador e Alien vs. Predador 2), Predadores chega aos cinemas.
O longa conta a história de um grupo de desconhecidos que cai de pára-quedas num planeta desconhecido, onde passa a ser caçado por criaturas assustadoras e misteriosas. O grupo reúne basicamente “predadores” humanos, ou seja, pessoas cujas vidas são dedicadas ao crime ou à guerra, com exceção ao médico vivido por Topher Grace (Idas e Vindas do Amor e Homem-Aranha 3).
O mercenário Royce (Brody) acaba assumindo o posto de líder do grupo, apesar de sempre colocar seus interesses em primeiro lugar, o que irrita a militar de Israel Isabelle (Braga). O restante do grupo é composto por um perigoso condenado, um membro de um esquadrão da morte, um militar do leste europeu, um chefe do narcotráfico e um integrante da máfia japonesa. Juntos, todos lutarão para sobreviver.
Os problemas dePredadores e são muitos – se iniciam já na seleção do elenco. Ninguém é louco de dizer que Adrien Brody (O Pianista) é um mau ator, mas é inegável que ele não transmite a naturalidade necessária quando o objetivo é basicamente partir para a porrada. A primeira tentativa do ator no mundo da ação acaba podendo ser considerada vexatória, ainda mais quando nos deparamos com momentos “bondianos” em que o herói parte para a luta sem camisa. Alice Braga, por sua vez, não compromete. É curioso verificar que a atriz surge inclusive como uma espécie de musa da nova onda sci-fi, tendo aparecido com destaque em três filmes do gênero: Eu Sou a Lenda
. Se a seleção do elenco é falha, os furos no roteiro são ainda mais pungentes. “Eu não conheço essa selva. E eu conheço a maioria delas”, afirma a personagem de Braga em uma de suas primeiras falas. O caráter inverossímil da citação aparece outra dezenas de vezes na produção. O médico quando fala sobre questões biológicas é extremamente prolixo, enquanto que Royce ao fazer uma “leitura” das pessoas que o acompanhavam dá detalhes que jamais poderia saber. E o filme segue por aí, sempre pecando pelo excesso.
Produzido por Robert Rodriguez, o longa representa para a franquia o mesmo que fizeram o segundo filme e os crossovers com a série Alien, ou seja, nada de novo ou relevante. É apenas mais do mesmo.
Observação: a atividade de tradução de um longa cujo roteiro muitas vezes tem mais de 100 páginas não é nada fácil. Assim, erros nas legendas são vistos em quase todos os filmes e devemos quase sempre relevar. Pois bem, no caso dePredadores cabe uma crítica. O personagem de Walton Goggins ("The Shield"), um condenado a cadeira da morte, fala em determinado momento do filme que se sair vivo da selva em que se encontra iria cheirar muita cocaína e estuprar uma série de mulheres. Neste ponto, o tradutor Cláudio Fragano optou por traduzir para "vou cheirar muita cocaína e transar com muitas mulheres". A fala original é sim grotesca, mas não compete ao tradutor ou à distribuidora fazer juízo de valor diante da obra originalmente concebida.