SOBRE MUTANTES E IMUTÁVEL
por Roberto CunhaA vida é feita de escolhas e você deve ser responsável por elas. Este filme é um caso evidente da escolha acertada em começar tudo de novo e apresentar para o espectador a origem dos mutantes da Marvel. Para quem pensa em parar de ler o texto porque quadrinhos é coisa de nerd, a opção pode ser um erro porque trata-se de uma obra-prima do entretenimento, com conflitos consistentes e envolventes.
Na trama, Charles Xavier (James McAvoy) tem poderes telepáticos, é um estudioso sobre a raça humana e segue a tese darwiniana da extinção dos menos evoluídos, enquanto Erik (Michael Fassbender), através de campos magnéticos, consegue manipular qualquer metal. A diferença é que o primeiro vê nos super poderes uma chance de ajudar no futuro da humanidade e o segundo enxerga neles um caminho para reviver um fantasma do passado: a segregação.
Do outro lado, Sebastian Shaw (Kevin Bacon) é um ex-cientista do nazismo interessado em provocar um confronto entre Estados Unidos e a (agora extinta) União Soviética. O roteiro, malandramente, insere cenas verdadeiras (em preto e branco) do presidente Kennedy na televisão e o objetivo, claro, é situar você no cenário da histórica rixa entre as duas potências, mas dentro deste universo fantástico. A ideia funcionou e não ficou datada.
Assim, durante as mais de duas horas de projeção, o espectador livre de preconceitos será envolvido por uma aventura bem amarrada, com ritmo, ótimos efeitos especiais, humor nos diálogos (mais ainda para iniciados) e, acima de tudo, um climão daqueles que deixam você ligado no próximo acontecimento. A trilha sonora incidental é marcante e digna de destaque, assim como Erik/Fassbender, que rouba a cena, apesar de outros personagens interessantes.
Para a turma que gosta de observar referências (propositais ou mera coincidências), percebe-se Bastardos Inglórios em cena de taberna argentina protagonizada pelo mesmo ator, Instinto Selvagem numa sala de interrogatório com Emma Frost (January Jones) e Homem-Aranha num quase beijo invertido entre Raven (Jennifer Lawrence) e Hank (Nicholas Hoult).
Entre as curiosidades, além da rápida aparição de Logan (Hugh Jackman) na hora do recrutamento e seleção da equipe, foi legal "a festa estranha com gente esquisita" protagonizada pelos jovens mutantes, revelando seus poderes e procurando os nomes de batismo pelos quais serão reconhecidos futuramente. Bom também foi rever um bom ator pouco explorado por Hollywood, integrante de um clássico: Michael Ironside (Scanners - Sua Mente Pode Destruir). O mais intrigante, porém, vai para o nome Caspartina, que batiza o barco e o submarino do vilão. E a origem pode estar no "piloto" do longa, já que Matthew Vaughn tem dois filhos chamados Caspar e Clementine. Captou ?
Portanto, mais do que apresentar uma simples história de vingança pessoal, de heróis e vilões, X-Men: Primeira Classe é filme de primeira (com trocadilho), digno do orgulho dos mutantes e imutável em sua plenitude. Programa imperdível. E que venha a sequência porque a "mágica" está só começando e cada um tem seus truques.