Críticas AdoroCinema
0,5
Horrível
Ponto Org

Catástrofe anunciada

por Francisco Russo

Em determinado momento do filme, Paulo Cesar Pereio evoca com sua voz sorumbática: "Voltamos a transmitir com exclusividade mais desta catástrofe". Por mais que o veterano ator estivesse se referindo às imagens de uma enchente em São Paulo, é inevitável não transmitir a frase para o próprio filme ao qual está inserida. Afinal de contas, Ponto Org é realmente uma catástrofe.

Longa-metragem de estreia de Patrícia Moran, Ponto Org foi exibido no Festival de Gramado de 2010 e levou dois anos até encontrar uma vaga no circuito comercial. Fiel ao histórico da diretora no mundo da videoarte, onde as imagens e sons são mais importantes do que a narrativa em si, chega a ser difícil até mesmo definir a história do filme. Há uma documentarista, que entrega a três meninos de rua uma câmera para que eles possam filmar cenas de seu cotidiano. Há um especialista no desenvolvimento de jogos de computador, que chega a São Paulo para ajudar a documentarista. E há os três garotos, que vivem saltitando com o novo brinquedo em mãos e apresentam uma mendiga que se recusa a deixar o viaduto em que vive. Só que o filme não conta propriamente a história de nenhum destes personagens. Eles servem apenas de desculpa para rodar cenas supostamente belas, que pouco ou nada representam, ou fazer brincadeiras tipo a documentarista e o especialista sentados, conversando, cada um com a voz do outro. Puro interesse visual, sem qualquer compromisso em instigar algo no espectador além do tédio.

Em meio ao passeio da diretora pelos locais visitados pelos "protagonistas", há um punhado de frases soltas e uma série de situações experimentais, seja com música eletrônica ou com a própria imagem. Um exemplo é que pouco antes da frase dita por Pereio, citada no primeiro parágrafo, o filme simplesmente sai do ar, como se fosse uma televisão fora de sintonia. É no retorno, alguns segundos depois, que as imagens voltam e vem a profética fala. Pereio, inclusive, é uma espécie de carta na manga da diretora. Surge aqui e ali, como um personagem não definido, mais para marcar presença com seu semblante ou explorar o vozeirão característico. Traz um certo charme, apesar dos problemas do filme.

Ponto Org é um filme bastante autoral, que faz jus ao histórico de Patrícia Moran. O grande problema é que, por ser mais videoarte do que cinema, pouco atrai a atenção do espectador, a não ser aquele que tenha interesse em observar imagens feitas sob ângulos pouco usuais e experimentações do tipo. O resultado é um filme tedioso, que faz com que se conte os minutos na expectativa que ele logo chegue ao fim. Como disse Pereio, uma catástrofe!