Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Caminho da Liberdade

Longa jornada

por Lucas Salgado

Peter Weir é mesmo um diretor especial. Por mais que seu nome seja poucas vezes lembrado quando se debate grandes nomes da direção cinematográfica, o cineasta é inegavelmente um nome de talento. Weir já havia comprovado toda sua competência com filmes como Sociedade dos Poetas Mortos (1989), mas foi em 2003 que deu uma guinada em sua carreira. Por mais que seja um longa inferior à O Show de Truman (1998), Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo foi a produção capaz de retratar toda sua capacidade por trás da câmeras.

Por sinal, Caminho da Liberdade lembra muito Mestre dos Mares e comprova que os desafios em terra podem ser tão difíceis como os em mar aberto. A nova produção, assim como a de 2003, possui um ritmo muito lento, que pode incomodar bastante o espectador. Os menos agitados, no entanto, devem apreciar muito os belíssimos cenários do filme e suas longas tomadas.

Mas engana-se quem pensa que The Way Back (no original) é apenas um longa com cenas e paisagens bonitas. Trata-se de uma produção muito bem realizada e que foge da monotonia graças a atuação do elenco principal. Destaque em Across the Universe, Jim Sturgess prova que sabe não apenas cantar, mas também realizar uma atuação extremamente dramática quando necessário. Abordar a excelente atuação de Sturgess é importante pois ele é o protagonista da trama, é ele que busca o "caminho de volta" presente no título original (e excluído do título no Brasil), mas não seria correto tratar das atuações isoladamente. O filme funciona porque todos os atores funcionam juntos. E nesta leva estão Dragos Bucur, Colin Farrell, Ed Harris, Alexandru Potocean, Mark Strong e Saoirse Ronan, que mais uma vez comprova ser uma das jovens atrizes mais promissoras da atualidade.

Escrito por Weir e Keith Clarke, o filme conta a história de sete prisioneiros capturados durante o regime de Stalin, que aproveitam uma tempestade de neve para escapar de uma prisão soviética em 1940. O problema é que não basta fugir da prisão, uma vez que do lado de fora das grades eles irão se deparar com o cenário aterrorizando do inverno na Sibéria.

Caminho da Liberdade pode parecer apenas o retrato de uma jornada em busca da liberdade, como diz o equivocado título nacional, mas é muito mais que isso. O sonho utópico dos fugitivos é voltar justamente à situação anterior de suas vidas, onde eram livres, é bem verdade, mas também onde não haviam sofrido os males da guerra. A fuga da prisão lhes dá a sensação de liberdade, mas o que buscam é o sonho de que aquela jornada iria de certa forma apagar as perdas do passado.

A perda, inclusive, é um dos temas principais da produção. Enquanto um personagem perdeu a esposa, outro perdeu o filho, um terceiro a fé e os demais a própria pátria, que agora os abrigava como traidores.

Com uma bela direção de fotografia de Russell Boyd e trilha sonora precisa de Burkhard Dallwitz (ambos parceiros de longa data de Peter Weir), Caminho da Liberdade ficará marcado pelo excepcional trabalho de maquiagem do trio Edouard F. Henriques, Greg Funk e Yolanda Toussieng, que deram ao filme sua única indicação ao Oscar.