Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Looper - Assassinos do Futuro

Um homem, duas épocas

por Francisco Russo

Viajar no tempo é um dos sonhos da humanidade. O assunto já foi explorado de várias formas no cinema, nem sempre de maneira muito clara. Afinal de contas, mexer com o passado e alterar o que ainda irá acontecer, gerando realidades alternativas, não é algo tão simples assim. Looper - Assassinos do Futuro explora este lado complexo, e até faz graça com ele, ao contar a história de um assassino da máfia que encontra a versão mais velha de si mesmo.

A trama se passa em 2044 e acompanha Joe (Joseph Gordon-Levitt, foto), que tem por tarefa eliminar os condenados da máfia enviados do futuro. Ele é um looper, muito bem pago pelo serviço mas também com um preço a pagar: pode viver por 30 anos, após este período será caçado pela máfia e enviado ao passado para ser morto por sua versão mais nova – este é o loop, ou fim de ciclo, para cada um dos assassinos. Só que a versão mais velha de Joe (Bruce Willis) se recusa a aceitar a morte passivamente e consegue escapar ao retornar ao passado. É o início de uma perseguição insólita, onde o Joe do presente (Gordon-Levitt) deseja matar o do futuro (Willis) para garantir seu futuro, enquanto que o do futuro não pode eliminar o do presente, já que isto acabaria com ele próprio, mas precisa agir para evitar que, no futuro, seja capturado e enviado ao passado. Confuso? É assim mesmo.

Em meio às mudanças repentinas na linha do tempo de Joe – algumas exigindo uma certa reflexão do espectador -, é apresentado um futuro pé no chão. Ao mesmo tempo em que há motos voadoras e humanos com poderes telecinéticos, há também ícones estilosos como jaquetas de couro e bacamartes, usados pelos loopers em seus assassinatos. Esta mescla dá ao presente do filme um imagem próxima à realidade atual, sem deixar de lado possíveis inovações tecnológicas que possam surgir. Trata-se de um visual interessante, que serve também de contraponto entre 2044, época em que o presente da história se passa, e o futuro de onde o personagem de Bruce Willis vem.

Willis, por sinal, é peça importantíssima no longa-metragem. Por mais que seu personagem tenha bem menos destaque que a versão mais jovem, coube a ele servir de molde para Joe. Ou seja, Gordon-Levitt teve que usar lentes de contato claras e maquiagem para que seu rosto tivesse formato parecido ao de Bruce Willis. O resultado impressiona pela semelhança entre os atores, deixando as expressões faciais de Gordon-Levitt bem mais endurecidas e causando um certo estranhamento de início, diluído no decorrer do filme.

Looper – Assassinos do Futuro é um filme de ação que valoriza o roteiro, criando situações que coloquem frente a frente os pontos de vista distintos das duas versões de Joe. Não é um filme de fácil compreensão e, também por isso, tem seu valor dentre as ficções científicas que abordam viagens no tempo. Com uma boa dose de violência e um ar estiloso, o longa tem como destaque a boa interpretação do garoto Pierce Gagnon. É dele o personagem mais interessante do filme pela dubiedade revelada ao longo da história, mesclando cenas doces com outras em que apresenta um ar sinistro.