Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
O Turista

Sob Ares Europeus

por Francisco Russo

Johnny Depp e Angelina Jolie. Dois dos maiores e mais queridos astros do cinema atual. A reunião da dupla em um longa-metragem gerou ansiedade nos fãs e, para muitos, a crença de que seria motivo suficiente para a entrada de muitos dólares na bilheteria. Não foi o que aconteceu, ao menos nos Estados Unidos. O motivo principal é que O Turista vai na contramão dos filmes contemporâneos, apostando firme na beleza e no charme de seus protagonistas em detrimento de uma história recheada de cenas de ação. Para completar, possui um clima europeu não apenas no local em que sua trama acontece, mas também na condução mais vagarosa de sua história. Nada mais anti-americano.

O Turista lembra muito alguns filmes feitos na década de 60, como Charada e Quando Paris Alucina, em que a cidade onde a trama se passa é também personagem da história. Não por acaso, em ambos os citados ela é Paris, ponto de partida deste filme. Aqui, Jolie passa pela cidade-luz mas logo migra para a belíssima Veneza, com seus cartões portais e os rios que servem de estrada para os habitantes. No meio do caminho, é claro, Depp embarca na história. A escolha das locações foi precisa, de forma a combinar com algo que tanto Jolie quanto Depp conseguem passar ao público: charme. Esta é a palavra chave do filme.

Charme que transborda logo na primeira sequência, quando uma Angelina Jolie belíssima e de figurino impecável está à espera de um bilhete em uma praça parisiense. Charme mantido na viagem de trem, pela elegância do meio de transporte. Charme presente em toda Veneza, seja nas travessias de gôndola ou no suntuoso hotel, onde a personagem de Jolie se hospeda. Tudo feito para encher os olhos, visualmente falando. Mas, em relação ao roteiro, o filme por vezes patina.

O Turista é um suspense sobre troca de identidades. Todos estão atrás de Alexander Pearce, sonegador de impostos que roubou mais de US$ 2 bilhões de um gângster russo. Só que Pearce passou por uma recauchutagem completa, modificando radicalmente seu visual. Logo, ninguém mais consegue reconhecê-lo. Nem mesmo Elise (Jolie), que viveu com ele por um ano. Para reencontrá-la, Pearce envia um bilhete e pede que Elise o encontre em Veneza. No caminho, ela deve escolher alguém de tipo físico parecido ao seu, para servir de isca para a polícia e seus inimigos. Eis que entra em cena Frank (Depp), professor de matemática em viagem pela Europa.

A trama é repleta de reviravoltas, no melhor estilo ninguém é na verdade quem aparenta ser. Algumas até funcionam, outras soam exageradas. Pior são hipóteses levantadas sobre o novo Alexander Pearce, de que seria 10 centímetros mais baixo (!!!), ou a incrível técnica que permite um papel picotado e queimado ser decifrado. Situações inverossímeis demais até para os menos exigentes. E o que falar do cigarro eletrônico, que solta baforadas de vapor d'água? Impossível não lembrar da teoria levantada no ótimo Obrigado por Fumar, onde um novo produto é colocado nas mãos de astros do cinema no intuito de impulsionar as vendas.

Se a história não é seu forte, O Turista compensa com glamour, beleza e sensualidade, sem jamais apelar para a exposição dos corpos de seus astros. Há piadas bem sacadas, em boa parte graças ao uso do estereótipo do americano fora de seu país, desleixado e se considerando o centro do planeta. O filme conta com poucas e criativas cenas de ação, mescladas sempre às características de Veneza, e uma trilha sonora bastante agradável, variando entre o suspense e o romântico.

O Turista não é um grande filme e está longe de ser o melhor trabalho das carreiras de Angelina Jolie e Johnny Depp. Possui defeitos explícitos, mas também traz qualidades que atenuam os problemas. É filme para se apreciar o cuidado visual e sonoro com que foi realizado e as belezas exploradas pela história. Um bom filme, sem ser muito exigente.