Cabras, Jedis e o Mundo Atual
por Francisco RussoO título já chama a atenção, pelo inusitado. O elenco é caprichado: George Clooney, Ewan McGregor, Jeff Bridges e Kevin Spacey. A roupagem é atraente e bastante convidativa. Para fechar o pacote, uma história com um pé na realidade e outro no realismo fantástico, misturando elementos da cultura pop com outros místicos, além de situá-los em um contexto verídico e bastante atual: a invasão do Iraque. Assim é Os Homens que Encaravam Cabras, um filme que usa o sarcasmo como mola mestra para apresentar uma história surreal e bem divertida.
Tudo começa com o jornalista Bob Wilton (McGregor), que foge para o Iraque em uma tentativa desesperada de se recuperar do fim de seu casamento. Como ele mesmo diz, "ir para a guerra quando se tem o coração partido". A música que surge logo após esta decisão é a elétrica "Alright", do Supergrass, cujo refrão repete que estamos todos bem. Só que nada está bem para Wilton. Ao menos até conhecer Lyn Cassady (Clooney, muito bem).
Cassady foi integrante do Exército de Terra Nova, uma divisão do exército americano dedicada a encontrar meios que permitissem que a paz e o amor pudessem vencer guerras. Uma mistura entre o militarismo e o ambiente hippie dos anos 60, onde tudo era válido para vivenciar novas experiências. Tudo em um contexto real, é importante ressaltar. A viabilidade de tal situação diante da paranóia existente devido a Guera Fria é um dos trunfos do roteiro. Os ex-presidentes Ronald Reagan e George W. Bush fazem parte desta "realidade", com citações sarcásticas ao governo de ambos e o que representaram para o projeto em si.
A parceria formada entre Wilton e Cassady é o que move o filme. Eles perambulam pelo deserto iraquiano, cada um com sua meta. Wilton em busca de um furo de reportagem, além de querer crer em toda esta história fantasiosa. Cassady atrás de sua missão final, aquela que pode reabilitá-lo. A dupla proporciona momentos impagáveis, especialmente quando Cassady resolve demonstrar seus poderes, de alguma forma. A incredulidade de Wilton - e, por que não, também do espectador - diante de tais situações provoca os melhores momentos do filme.
Há também uma grande sacada, que é a utilização de uma figura extremamente popular e que consta no inconsciente coletivo de grande parte daqueles que conhecem ao menos um pouco de cinema: os cavaleiros jedi. Sim, eles mesmos, da série Star Wars de George Lucas. A escalação de McGregor, um jedi de fato na segunda trilogia, é também uma piada em relação a esta situação. Aqui os jedis estão presentes não pelos sabres de luz ou poderes, mas pelo significado que possuíam diante da sociedade. Com base nisto, há uma bela analogia ao término do filme sobre a necessidade dos jedis nos dias atuais. Não apenas no filme, mas também na vida real.
Os Homens que Encaravam Cabras é um filme que brinca com uma situação real, sem no entanto diminuí-la. A gravidade na situação do Iraque, apesar de não ser o foco principal da história, está presente nos sequestros e na própria ambientação. O panorama político dos dias atuais aparece especialmente no personagem de Kevin Spacey, em sua busca por poder, e na já citada analogia final. É um filme que diverte, principalmente pelos maneirismos de Clooney e sua insólita história, sem deixar de provocar reflexão.