Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Os Muppets

MAHNA MAHNA

por Lucas Salgado

Uma crítica deve sempre analisar ao máximo os aspectos técnicos de um filme, tratar da fotografia, da montagem, da mixagem e de muitos outros elementos que compõem uma produção cinematográfica. Mas também é importante para o crítico passar para o leitor quais sentimentos o longa assistido despertou. Volta e meia, acaba surgindo uma crítica azeda e até demasiadamente pesada pois é difícil para uma pessoa que Adora Cinema deixar passar coisas que desrespeitam a sétima arte. Com relação a Os Muppets o desafio é conseguir neste texto expressar o sentimento que emana ao conferir o mesmo, afinal é uma emoção tão genuína e de uma nostalgia tão bonita que acaba interferindo com qualquer objetividade.

Felicidade. Esta é uma palavra que pode descrever bem a sensação de quem assiste a nova aventura dos personagens criados por Jim Henson. Ainda que leve alguns minutos para nos reencontrarmos com a turma principal, já no início com os novos personagens somos colocados em um estado de alegria que dura quase todo o filme. É difícil tirar o sorriso do rosto durante a projeção e aí está o principal mérito de Os Muppets.

O longa conta a história de Walter, um grande fã dos Muppets e viaja para Los Angeles ao lado do irmão Gary (Jason Segal) e da namorada deste, Mary (Amy Adams). Enquanto que o casal deseja comemorar o aniversário de namoro, Walter quer visitar o Teatro dos Muppets. Lá acaba descobrindo o plano maligno do magnata do petróleo Tex Richman (Chris Cooper) de demolir o local. Com isso, o trio procurará a pessoa (ou boneco) indicada para reunir a turma e salvar o espaço: Caco. (Aqui cabe uma observação, eu não conheço nenhum Kermit. Pra mim é Caco e não se fala mais disso. Se você faz parte da turma que chama o ursinho Puff de Pooh e a Sininho de Tinker Bell, sinta-se a vontade para discordar.)

É quase impossível para quem acompanhou os muppets quando pequeno não sentir um clima de nostalgia, de reminiscência com o filme, mas o mais interessante e surpreendente é que o clima que impera na produção é o de frescor. Não é um longa retrô e nem tem "cheiro de naftalina". Todo o desenvolvimento é feito com uma aura de novidade impressionante.

É certo que alguns dos números musicais são bobinhos e redundantes e que as presenças de Segal e Adams são quase que decorativas, mas é muito difícil não gostar de The Muppets (no original). É curioso notar que o filme tem um caráter quase que documental. A trama é dura ao apontar que o mundo praticamente esqueceu os personagens e que eles não interessam mais comercialmente, mas a verdade é que isso de fato aconteceu. E o longa é uma espécie de carona para voltarem ao sucesso.

Se os personagens irão retomar a fase estelar de décadas atrás é difícil dizer, mas é seguro afirmar que eles continuam nos corações e mentes de muitas pessoas, e que foi muito bom revê-los em forma, sem precisarem de piadas vazias ou de baixo calão. Não foi por outro motivo que assim que Eddie Murphy desistiu de apresentar o Oscar 2012, que iniciou-se uma campanha nas redes sociais para que os bonecos fossem os responsáveis pela cerimônia. Infelizmente, a Academia foi mais conservadora e convocou Billy Crystal para a função.

Quando falo que Jason Segal tem uma presença discreta na história, não quero dizer que não tem importância, afinal este filme jamais existiria sem ele. O ator assina o roteiro e ainda acumula a função de produtor executivo. Foi uma das pessoas fundamentais para convencer a Disney a botar dinheiro no projeto.

O roteiro, também de responsabilidade de Nicholas Stoller (As Loucuras de Dick e Jane), conta com inúmeras auto-referências e com uma deliciosa metalinguagem. Além disso, apresenta alguns conceitos inovadores e interessantíssimos, como "viajar por mapa" e "seleção com ajuda da montagem". A jornada de Caco para reencontrar Miss Pig, Animal, Gonzo, Fozzie e companhia é não apenas bonita, mas também bem desenvolvida.

Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora é um dos destaques da obra. Embora algumas canções originais sejam simplesmente corretas, outras são absolutamente marcantes, como "Man or Muppet?". Isso sem falar nas tradicionais "The Rainbow Connection", que é bela e nostálgica, e "Mahna Mahna".

Além de Segal e Adams, o elenco conta com a presença de outros nomes importantes em participações especiais, como Zach Galifianakis, Emily Blunt, Jack Black, Whoopi Goldberg, Alan Arkin, John Krasinski e Neil Patrick Harris. Todas as pontas são divertidas, mas é impossível não destacar as de Black e Blunt. O primeiro vive uma espécie de padrinho de Animal em seu tratamento contra os excessos de fúria, enquanto que a atriz atua numa referência clara a sua personagem de O Diabo Veste Prada.

Todos os atores parecem ter se divertido muito durante suas participações e em momento algum mostram-se dispostos a roubar a cena dos verdadeiros protagonistas. Talvez a performance menos especial seja a de Chris Cooper. Inicialmente, faz bem o papel do magnata sem coração, mas vai perdendo foco e espaço ao longo da trama, exigindo do roteiro uma solução simplista.

Os Muppets é um filme para toda a família. Quem cresceu nas décadas de 70 e 80 deve sentir um aperto especial no coração, mas é bem provável que as crianças de hoje também se encantem com a história. Aproveitando a letra de "The Rainbow Connection", posso dizer que trata-se de um longa para apaixonados, para sonhadores e, sem dúvida, para mim.