Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
A Vida Secreta das Abelhas

Um filme doce sobre a amargura

por Roberto Cunha

O que é pior? Amar e não ser amado ou descobrir que, às vezes, é melhor não sentir para sobreviver? A Vida Secreta das Abelhas é um filme doce sobre a amargura e os sentimentos que dela brotam, transformando para sempre a vida de uma adolescente. Lilly (Dakota Fanning) é uma jovem inconformada por ter causado a morte da mãe, que mal conheceu, e vítima do desamor do pai violento (Paul Bettany) que parece não perdoá-la pelo fato ocorrido. A história se passa na América racista dos anos 60 e Lilly, acostumada a escrever histórias decide reescrever a sua, fugindo de casa com sua única amiga: a empregada negra Rosaleem (Jennifer Hudson). Seu objetivo é encontrar um lugar através da única pista e lembrança que tem de sua mãe. Assim, elas conhecem as negras August (Queen Latifah), June (Alicia Keys) e May (Sophie Okonedo), três apicultoras respeitadas e totalmente independentes.

Ao ser carinhosamente acolhida pelas irmãs August e May e, parcialmente, por June, a jovem começa a fazer inúmeras descobertas pertinentes a sua idade como a sensação do primeiro beijo ou o que é o primeiro amor. Passa a conviver com a dor e as injustiças de uma país dominado pelo preconceito racial, mas descobre que o verdadeiro afeto pode existir entre as pessoas, não importando a cor de sua pele. E o mais importante para a sua vida: que sua mãe, embora ausente, a amava de verdade. "Sinto que estou no lugar certo", disse Lilly para Rosaleem. A direção de Gina Prince-Bythewood (Jogo Limpo) é leve, mas seu roteiro poderia ter explorado melhor o livro "A Vida Secreta das Abelhas" premiado best seller de Sue Monk Kidd, que aborda com profundidade as questões implícitas de uma garota branca morar com três solteironas negras numa pequena cidade da preconceituosa Carolina do Sul. Mas, talvez, pelo fato de ser produzido pelo astro Will Smith e sua esposa Jada Pinkett Smith, a opção tenha sido trilhar um caminho mais brando, sem deixar de lado algumas cenas de violência racial.

E a obra que começa com jeitão independente ganha contorno mais comerciais com boa trilha sonora, bela fotografia e, como se viu, um bom elenco de nomes conhecidos. E embora Alicia Keys como atriz ainda seja uma boa cantora, seu papel de durona (muito acima do tom) é o que rende momentos de emoção no longa. Diferente do esperado, já que Fanning é conhecida por sua capacidade de externar emoção e dar peso aos seus personagens dramáticos. Entre as curiosidades, a sensação da época com a presença do ator "Jack Palance com uma negra" na cidade, um dueto à capela de Latifah e Keys e dois momentos dissonantes com apelo erótico: a imagem fálica do doce de May e a chupada de Lilly no dedo melado de Zach (Tristan Wilds). E é deste personagem uma das frases mais importantes ditas para Lilly: "A verdade é só metade do caminho. O que importa é o que você vai fazer com ela". 

Um bom filme para se ver sem compromisso e descobrir, junto com o personagem, que passado, presente e futuro se misturam como os favos de uma grande colméia chamada vida.