Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
A Rebelião

Resgate histórico

por Lucas Salgado

O ator e diretor Mathieu Kassovitz é um nome bem conhecido do cinema francês na atualidade, tendo realizado o impactante O Ódio (1995), em que abordou a questão da imigração na França bem antes do assunto chegar aos telejornais brasileiros. Nos últimos anos, no entanto, tentou a sorte no cinema norte-americano e acabou decepcionando com produções nada interessantes como Na Companhia do MedoMissão Babilônia. De volta à terra natal, ele mais uma vez chama a atenção com um filme que aborda importantes temas políticos.

A Rebelião conta a história real do sequestro de vários oficiais na Ilha de Ouvea, Nova Caledônia, em 1988, às vésperas da eleição presidencial na França, num caso que ficou conhecido como a "Tomada de Reféns de Ouvea". Liderados por Dianou Alphonse (Iabe Lapacas), os sequestradores são tratados como terroristas pelo governo de François Mitterrand, que envia um efetivo significativo das forças militares para o local. Acompanhando o exército, Philippe Legorjus (Kassovitz), capitão do GIGN, é o responsável por negociar com os criminosos.

O longa é bem crítico e retrata a situação de Nova Caledônia, que permanece até hoje como uma espécie de colônia da França, embora este termo não seja mais utilizado. A produção retrata bem as barbaridades cometidas pelos locais, mas também expõe o espírito de um povo que deseja o fim de uma opressão e a proclamação da independência.

Kassovitz realiza um trabalho impressionante como ator, entregando uma performace emocionante e questionadora. Também se sai muitíssimo bem na direção, realizando sequências de ação de tirar o fôlego. Só erra em alguns momentos em que busca inovar, oferecendo um perspectiva subjetiva da câmera. Ele também é um dos roteiristas e um dos montadores do filme, o que mostra o quão pessoal é o projeto. A montagem, por sinal, merece aplausos por manter o longa em um ritmo excelente durante os 136 minutos de duração.

O elenco conta ainda com as presenças de Alexandre SteigerSylvie Testud, mas Lapacas e Kassovitz são mesmo aqueles que mais se destacam. A trilha sonora de Klaus Badelt consegue conduzir bem a narrativa, que ainda é beneficiada pela fotografia de Marc Koninckx, que não deixa de registrar toda a beleza do local ao mesmo tempo em que retrata a tragédia da situação.

O título original L'Ordre et la morale faz menção a um importante diálogo do longa, que mostra que muitas atitudes podem ser tomadas em nome da "ordem e da moral" de uma coletividade fictícia, ao invés de se prestigiar a conversa e a civilidade.