CARONA NO SUCESSO DOS OUTROS
por Roberto CunhaO espectador que já assistiu alguma coisa de "Heroes" na TV vai fazer uma comparação inevitável entre o filme Heróis, lançamento da Summit Entertainment (Crepúsculo) e o famoso seriado da TV. Portanto, como os personagens também possuem poderes especiais, o título, no Brasil, parece mesmo uma estratégia para pegar carona no sucesso da televisão.
Heróis começa com uma cena de ação no passado vivida por um menino e uma narração pretensiosamente apocalíptica, contando sobre os experimentos nazistas que vitimaram milhares de crianças especiais para o desenvolvimento de poderes paranormais. E vai além, fazendo uso de frases de efeito como "Não pedimos para ser assim. Nascemos assim" ou "Até agora eles ganharam a batalha, mas nós vamos vencer a guerra!", numa tentativa de dar mais seriedade à trama ao apresentar este "conflito".
Na sequência de abertura, Heróis faz um "rocambole" de cenas reais e mostra líderes famosos da humanidade, querendo, quem sabe, traçar um possível paralelo entre eles e a super-raça apregoada por Hitler e seu séquito. Mas a coisa para por aí. A história avança no tempo e revela a jovem Kira (Camille Belle, de Quando um Estranho Chama), participando de uma experiência e usando seus poderes especiais para se livrar das garras de uma agência secreta de paranormais (farejadores, videntes, berradores, curadores, etc) chamada de Divisão, liderada por Carver (Djimon Hounson, de Diamante de Sangue).
Durante sua fuga, ela rouba um frasco que contém uma poderosa fórmula. E encontra o apoio da vidente Cassie (Dakota Fanning, de Guerra dos Mundos) e de Nick (Chris Evans, de Quarteto Fantástico), que tem poderes de mover as coisas (telecinésia). Entretanto, os três descobrem que outra organização, também formada por paranormais, está a sua caça para pegar o misterioso líquido, transformando a vida deles num jogo mortal de gato e rato.
O filme tem muitas cenas de ação com efeitos especiais já conhecidos do espectador. São muitos tiros e supersocos no estilo dos video games, com corpos sendo lançados para os lados e para o alto. Mas o filme carece de criatividade como acontece, por exemplo, numa sequência em que os vilões querem pegar os heróis e quebram vários aquários grandes. O impacto visual é pequeno porque remete a já clássica cena de Ethan Hunt em Missão Impossível, de 1996.
O roteiro é furado. O personagem Nick (Evans) é apresentado como alguém que tenta sobreviver pelas ruas de Hong Kong com dificuldades de usar seus poderes para "virar" um simples dado em apostas valendo dinheiro. Depois, como que por encanto, o cara se torna capaz de enfrentar o super treinado agente da Divisão que possui os mesmos poderes que ele!? Como assim?
Negativo mesmo foi a escalação equivocada da franzina Fanning que, definitivamente, não convence com roupas estilosas, cabelos rebeldes pintados e, pasme, segurando duas pistolas. E muito menos bebendo para ficar fora de si. Ainda falta muita película à (excelente) atriz mudar a sua imagem junto ao público para este tipo de papel. Sem dúvida alguma, o pessoal do casting foi vilão nesta história.
O diretor Paul McGuigan (Paixão à Flor da Pele) não dirigiu. Tocou o longa com trilha sonora pop coerente, pegou uma boa tomada do alto das construções e ruelas chinesas (repetidas duas vezes) e deixou qualquer conotação sexual de lado. Heróis é para quem curte efeitos especiais e conteúdo superficial. Se você não faz parte deste time, ao assisti-lo, o herói pode ser você.