De arrepiar
por Francisco RussoUma das características mais impressionantes nos quadrinhos de super-heróis é a interligação entre as histórias. Um fato ocorrido pode repercutir trazendo consequências inesperadas para personagens que sequer têm relação direta com a origem, criando um universo ao mesmo tempo grandioso e assustador, pela necessidade de conhecer cada uma de suas pontas de forma a compreendê-lo como um todo. Nos cinemas a situação não é tão complexa assim, afinal de contas o número de filmes é bem menor que o de publicações mensais nas bancas. Ainda assim, a tarefa encampada pela Marvel é ousada: recriar este mesmo universo, com deixas propositais espalhadas em diversos filmes de forma que, futuramente, façam sentido na história como um todo. Os Vingadores - The Avengers é o grande ápice deste planejamento.
Diante de tal proposta, é inevitável assistir os demais filmes já lançados pela Marvel para compreender a trama de Os Vingadores. De Thor vem o vilão, Loki (Tom Hiddleston, perfeito no sorriso exagerado e cretino), e também a deixa para a trama central, indicada em uma cena pós-créditos. De Capitão América: O Primeiro Vingador vem o Cubo Cósmico, ou Terrafact, objeto central no roteiro da aventura. Dos dois Homem de Ferro há diversas referências, não apenas à prévia avaliação de Tony Stark como um possível integrante da equipe como à sua própria criação. Informações importantes que Os Vingadores assume sem dar maiores explicações ao público, justamente por já terem sido dadas anteriormente. Ou seja, se você não os viu não será o novo filme que irá – mais uma vez – explicar este e outros pontos da trama.
Tudo começa com uma explosão em um quartel-general da S.H.I.E.L.D. É lá que o dr. Erik Selvig (Stellan Skarsgard) analisa o Cubo Cósmico, um poderoso objeto roubado por Loki. Mais perigoso do que nunca, o vilão logo provoca muita destruição e assume o controle do próprio Selvig e ainda de Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), que passa a ser seu braço direito. Consciente do risco que é a posse do Cubo Cósmico nas mãos de Loki, Nick Fury (Samuel L. Jackson) cogita a criação de um grupo de seres especiais, dotados de grande poder mas que jamais haviam lutado juntos. São os Vingadores.
Se você pensa que daí em diante o filme apenas reúne os heróis para que, juntos, resolvam dar uma lição em Loki & cia, está muito enganado. O grande mérito de Os Vingadores é respeitar a individualidade de cada super-herói e reconhecer o tamanho de seu ego. O resultado disto é conflito, muito conflito. Seja através de tiradas provocadoras – muitas delas geniais – ditas por um Tony Stark (Robert Downey Jr., em plena forma) altamente sarcástico ou através de briga mesmo – Hulk que o diga. A construção destes confrontos, sempre em duetos, é feita de forma paulatina e crescente, mesclando grandes cenas de enfrentamento com outras de conversa e discussão. Tudo para ressaltar um grupo tão heterogêneo cuja única semelhança é defender o próximo.
Para quem conhece os personagens, Os Vingadores traz ainda alguns brindes extras. Extremamente bem feito pelo lado técnico, o filme conta com determinadas cenas que são especiais para quem curte os heróis desde os quadrinhos. A primeira aparição do porta-aviões aéreo da S.H.I.E.L.D. é uma delas, a conclusão no duelo entre Capitão América e Thor é outra. Entretanto, nada supera a cena em que os seis heróis surgem perfilados, formando um círculo, prontos para a batalha. É de arrepiar.
Mesclando aventura com humor, Os Vingadores é um filme divertidíssimo que faz jus ao peso de seus protagonistas. Além de contar com um excelente elenco, com destaque absoluto para Robert Downey Jr., e uma direção precisa de Joss Whedon, o filme traz ainda uma série de piadas visuais hilariantes, típicas dos quadrinhos, envolvendo seus personagens. Excelente filme, um dos melhores envolvendo super-heróis já feitos até hoje.