Destacando as injustiças
por Barbara DemerovAaron Sorkin, premiado roteirista que já se arriscou no posto de diretor (estreando com A Grande Jogada), novamente trabalha dobrado em Os 7 de Chicago. Sorkin escreve e dirige este drama ambientado no ano de 1969, que acompanha todo o julgamento do grupo formado por Abbie Hoffman, Jerry Rubin, David Dellinger, Tom Hayden, Rennie Davis, John Froines e Lee Weiner. Eles foram julgados e condenados por terem organizado protestos durante a Convenção do Partido Democrata em 1968; o evento se iniciou de forma pacífica, mas, com o choque da polícia, acabou sendo marcado por violência e revolta.
Estas duas palavras permeiam toda a narrativa -- conduzida com uma boa parcela do didatismo já esperado dentro da obra de Sorkin. As cenas iniciais, um tanto apressadas em apresentar todos os personagens, ditam uma falsa impressão de que poderá haver o mesmo dinamismo visto no filme estrelado por Jessica Chastain em 2018. Contudo, isso não acontece, sendo apenas um vislumbre introdutório de que o espectador teria de se concentrar a todo o momento para captar as informações baseadas em fatos históricos.
Assim que o filme se desloca para dentro do tribunal, o ritmo se aquieta e, entre algumas idas e vindas no tempo, o cenário principal é aquele que privilegia, de forma equilibrada, as injustiças praticamente ininterruptas do juiz Julius (Frank Langella) e a força de seus atores principais. Em especial, Sacha Baron-Cohen como Abbie e Eddie Redmayne como Tom, cujos personagens até ingressam em discussões sobre as diferenças de visão dentro da própria causa, mas acabam acatando à mensagem central que o roteiro nunca deixa escapar.
Drama impacta pela temática e possui boas atuações - especialmente de Sacha Baron Cohen
O fato de os personagens dentro do grupo não ganharem tanto tempo em tela fora os momentos em que estão reunidos no julgamento tira um pouco do aprofundamento necessário, individualmente falando. Fora Cohen (o ator de maior destaque) e Redmayne, os demais são apresentados apenas com o que é decorrente do protesto, e não necessariamente de como eles chegaram até ali. São figuras reais, todas elas, e suas missões sociais estão claras; mas, ainda assim, o grupo está limitado à precisão temporal contida no roteiro.
Mas não é como se a mensagem de Os 7 de Chicago não tenha força suficiente. A temática do filme possui uma potência tão atual que assusta -- e Sorkin sabe disso. Seu roteiro visa total atenção aos detalhes no julgamento, que possui desdobramentos tão racistas quanto dissonantes dentro da própria Constituição. O espectador sabe que os julgados não causaram o tumulto com a polícia -- com a prova oral feita por Ramsey Clark, em breve participação de Michael Keaton -- e, mais apavorante ainda, que Bobby Seale (co-fundador do Partido dos Panteras Negras) possui zero relação com os sete homens. Ainda assim, o personagem interpretado Yahya Abdul-Mateen II se mantém presente como réu por praticamente metade da narrativa.
Apesar de ainda trazer a sensação de que Aaron Sorkin desempenha melhor seu papel enquanto roteirista, Os 7 de Chicago expõe seu domínio como diretor por conta de seu elenco. Especialmente quando observamos o trabalho de Mark Rylance e de Joseph Gordon-Levitt como os advogados do caso, é possível ver que, apesar de quebras contrastantes de ritmo, o filme funciona porque aproveita o ambiente intimidador do tribunal para gerar atrito e comoção em medidas iguais. Mantendo-se apenas naquele local e explorando as mazelas do governo através de civis, o diretor encontra seu tom e a representação de questões lamentavelmente atemporais.