A tecnologia a serviço de um clássico
por Francisco RussoCharles Dickens publicou "A Christmas Carol" em 1843. Desde então a história se tornou um dos maiores ícones natalinos de todos os tempos, sendo diversas vezes adaptada para o cinema e a TV. Os Fantasmas de Scrooge é sua mais nova versão e conta com um grande trunfo para diferenciá-lo de seus antecessores: a tecnologia. Em três áreas distintas.
A primeira delas não é nova para o diretor Robert Zemeckis. A técnica de captura de movimento já foi por ele usada em O Expresso Polar e A Lenda de Beowulf e está presente mais uma vez. Trata-se do uso de diversos sensores no corpo dos atores, com o objetivo de transportar para seus personagens em animação sua expressão corporal. Ou seja, os atores são libertados dos limites físicos que possuem. Em O Expresso Polar, por exemplo, Tom Hanks interpretou um garoto. Para o diretor, há também benefícios. O universo da animação permite o exercício pleno da imaginação, bem como o uso de ângulos de câmera impossíveis - ou pelo menos bastante complicados - na vida real. Esta liberdade de ação e a junção com atores de verdade fez com que Zemeckis se apaixonasse por seu uso. E, a cada filme que realiza, a precisão da animação é maior. Ebenezer Scrooge, por exemplo, é a imagem e semelhança de Jim Carrey, seu intérprete. Sendo que Carrey ainda faz outros três personagens na trama, justamente os fantasmas do título.
A segunda é a animação em si. Há no filme diversos passeios panorâmicos sobre a cidade, todos visualmente impressionantes. As aparições dos fantasmas também merecem destaque, cada um seguindo um estilo próprio e gerando consequências distintas. O ponto falho fica apenas em relação aos personagens mais novos, que passam uma impressão de artificialidade. Aqueles que possuem marcas corporais mais nítidas, como o envelhecido Scrooge, são mais verossímeis. Ainda assim trata-se de um mero detalhe.
A terceira é o uso da tecnologia 3D, opcional ao espectador. Os Fantasmas de Scrooge é um filme nitidamente feito para explorá-la. Seja nas cenas de ação, nas panorâmicas ou em momentos simples como a neve caindo, há a preocupação em transmitir profundidade ao que acontece na tela. O que na verdade é a grande atração do 3D, que faz com que qualquer filme exibido neste formato seja um programa recomendável.
Deixando o lado técnico de lado, um problema que o filme enfrenta é o fato de sua história ser popular e, consequentemente, bastante conhecida. Para driblar esta questão são inseridas situações que ressaltam a criatividade visual e a qualidade da animação, mas que também passam a impressão de serem descartáveis, meros pretextos para trazer algo diferente do que já foi feito e atrair o público infanto-juvenil dos dias atuais, sempre ávido por ação. Quanto a isso, há ainda uma questão importante: Os Fantasmas de Scrooge não é recomendável para crianças pequenas. Não se trata de um filme pesado, mas, por ser sombrio e às vezes ameaçador, pode ser que elas se assustem.
Como um todo, trata-se de um bom filme. Para assistir sem grandes expectativas, tendo atenção especial para o lado visual e técnico apresentado. Afinal de contas, há quem diga que este será o futuro do cinema. Mesmo acreditando que a força da presença humana jamais será de todo erradicada, é preciso reconhecer a inovação e a qualidade aqui existentes. Do trio já feito por Zemeckis, este é sem dúvidas o melhor.