Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
Mad Max: Estrada da Fúria

Simplesmente insano

por Lucas Salgado

A história por trás de Mad Max: Estrada da Fúria é curiosa. Após o sucesso da trilogia original nos anos 80, por muito tempo se falou em uma continuação. Projetos e mais projetos foram pensados, mas tudo ficava no papel. Em 2003, parecia que finalmente as coisas caminhariam. George Miller e Mel Gibson estava prontos para um Mad Max 4, mas a dificuldade em se filmar na Austrália acabou adiando a produção e o ator resolveu pular fora. Quase uma década depois, foram iniciadas as filmagens, mas agora com Tom Hardy e Charlize Theron à frente do elenco. Restava a dúvida: valia a pena fazer um Mad Max sem Mel Gibson? Tudo apontava para um grande NÃO, mas...

Os produtores não só fizeram justiça aos originais como criaram o melhor filme da franquia. Isso mesmo, não há discussão. É claro que o primeiro Mad Max é icônico e foi muito importante na época, que Mad Max 2 - A Caçada Continua foi fundamental no desenvolvimento de uma visão pós-apocalíptica, mas nenhum dos dois (do três nem se fala) alcança o nível de qualidade visto em Estrada da Fúria

Após ser capturado por uma comunidade, Max (Hardy) é usado como banco de sangue para soldados feridos. O líder local, Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), usa o fato de ser o detentor de uma grande reserva de água para explorar toda sua população. Além de capturar pessoas para "doarem" sangue, ele tem doadoras de leite e até mulheres que existem para carregarem seus filhos. Quando uma de suas pessoas de confiança foge da comunidade, Joe vai atrás dela com todo seu exército. Por acaso, Max se vê em meio a essa disputa.

Theron interpreta Furiosa, que é a mulher que foge de Joe. Mas ela está longe de ser a mocinha indefesa, como o próprio nome já diz. Trata-se de uma personagem complexa e forte, que se sai bem no meio de toda a ação. Não há nada de sexo frágil. Ela é tão importante em cena quanto Max, o que já faz do filme algo especial. O elenco conta ainda com nomes como Zoë KravitzRosie Huntington-WhiteleyNicholas Hoult. Após se destacar em X-Men: Primeira ClasseMeu Namorado é um Zumbi, Hoult tem mais uma grande atuação. Seu personagem é elétrico, bem desenvolvido e cheio de reviravoltas, além de visualmente fascinante.

Passados 30 anos do terceiro filme, George Miller demonstrou ter ficado todo este tempo acumulando energia para esta continuação. Nas últimas décadas, ele fez O Óleo de LorenzoBabe - O Porquinho Atrapalhado na CidadeHappy Feet - O Pinguim. Agora, chegou a hora de soltar esta energia. Insano. Este é o melhor adjetivo para descrever o novo Mad Max. Estamos diante do melhor filme de ação do ano até o momento. E é difícil imaginar que algum outro vá superá-lo neste sentido.

É importante destacar que não é apenas uma questão de ter muita ação. Ao contrário do que vemos em Vingadores: Era de Ultron, a ação aqui é muito realista. Miller evitou ao máximo a utilização de efeitos especiais, o que resultou em sequências incríveis e brutais. Não passa a impressão de que estamos diante de um game.

Com direito apenas a uma breve apresentação no início, o filme conta com praticamente duas horas de ação ininterrupta. É basicamente uma grande e insana perseguição de carros, com pouco espaço para descanso e para nenhum espaço para crianças (que são as piores coisas de Mad Max 2 Mad Max Além da Cúpula do Trovão). Sem medo de soar repetitivo, é insano. Por sinal, insana também é a forma como a quantidade de ação cai como uma luva no roteiro. O espectador não tem muito tempo para respirar. Mas ele também não pede por isso. Ele quer mais e mais, como os habitantes do universo em cena pedem por água.

Vencedor do Oscar por O Paciente Inglês, John Seale deixou a aposentadoria após cinco anos para assumir a direção de fotografia do longa. E não é difícil imaginá-lo recebendo sua quinta indicação para uma estatueta da Academia. A fotografia do longa é quase tão importante quanto a direção. O trabalho de Seale tem referências ao de Dean Semler nos dois últimos filmes da trilogia original, principalmente na forma como retrata o deserto australiano. Seale, no entanto, inova ao acelerar as tomadas de ação, contribuindo para a experiência do espectador. A sensação é de que estamos diante de alguma coisa diferente.

Também merece destaque a trilha sonora de Tom Holkenborg, mais conhecido como Junkie XL. O DJ holandês criou uma trilha original e impactante. Do ponto de vista musical, deve-se elogiar a opção de Miller de criar uma espécie de "carro de som", em que vemos uma guitarra e tambores em cena. É meio brega, mas condizente com o universo Mad Max. Bizarro, mas cool.

A franquia Mad Max, que parecia perdida, está de volta. E tomara que continue assim.