Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
Austrália

Grandioso Épico Tedioso

por Francisco Russo

Baz Luhrmann tem apenas quatro filmes no currículo: Vem Dançar Comigo, Romeu e Julieta, Moulin Rouge e, agora, Austrália. Os três primeiros formam o que o próprio chama de "trilogia da cortina vermelha", filmes cuja história e formato buscam o espetáculo e a criatividade. Seu novo trabalho ruma por outro caminho, o do épico romântico, mas não ignora por completo as origens do diretor. Em especial no tratamento musical, que resgata a clássica "Over the Rainbow", de O Mágico de Oz. A música, assim como acontece principalmente em Moulin Rouge, é uma referência na trama, tendo papel ativo. Porém, apesar de ser linda e atingir o coração dos saudosistas, torna-se supérflua. Retire-a da trama e esta sentirá muito pouco sua falta. Este é o grande problema de Austrália: seu gigantismo.

A idéia de Luhrmann era criar um filme ao estilo de ...E o Vento Levou, mas é outro clássico que mais o assemelha: Assim Caminha a Humanidade. Seja na estrutura de construção da história ou até mesmo em certas cenas, como a casa de Faraway Downs em meio à paisagem árida, há muito do filme de George Stevens aqui. Aliás, citações e lembranças são recorrentes. As cenas de condução da boiada lembram "Rio Vermelho", o próprio personagem de Hugh Jackman em certos momentos lembra John Wayne, pelo estilo sisudo e valente. Usar ícones e clichês da história do cinema não chega a ser demérito, mas eles aqui fazem com que tudo torne-se trivial e óbvio. Falta a subversão, a ousadia, a paixão que Luhrmann teve em seus filmes anteriores. Mesmo buscando um cinema mais tradicional, o diretor fez de Austrália um filme frio, que apenas transmite emoção quando explora "Over the Rainbow".

Outro problema é a necessidade de falar sobre diversos assuntos, sem se aprofundar adequadamente a quase nenhum deles. A questão da geração perdida, um tema interessantíssimo envolvendo a quase completa destruição da cultura indígena pelo governo australiano, é contado por alto. Os ataques japoneses na 2ª Guerra Mundial são mais superficiais ainda. Personagens importantes na trama, como Fletcher e King George, não são bem construídos, caindo em estereótipos e situações em que há lacunas sobre seu desenvolvimento. Bem narrada mesmo é a história de Sarah Ashley e o vaqueiro, interpretados por Nicole Kidman e Hugh Jackman. Trata-se da velha questão dos opostos brigando e depois se atraindo, envolvendo a rica aristocrata inglesa e o rude boiadeiro. Nada de novo, mas bem feito. Nicole Kidman destoa um pouco de início, por compor uma personagem afetada em demasia, mas aos poucos acerta o tom de interpretação, auxiliada até mesmo pelo desenvolvimento de sua personagem. Já Jackman não compromete, cumprindo bem o lado físico e de presença em cena que seu personagem exige.

Austrália não é um filme ruim, mas cansa. Cansa pelas quase três horas de duração, necessárias para abordar todos os temas citados neste texto. Cansa pelo excesso, para ser mais exato. Um roteiro mais enxuto, que retirasse algumas das subtramas, até mesmo para poder melhor trabalhar outras, seria mais adequado. De qualquer forma trata-se de um filme muito bem produzido, o que pode ser notado especialmente na fotografia, repleta de planos abertos para ressaltar a paisagem local, e em sua direção de arte. Um filme mediano, mas que se torna menor ao lembrar quem é seu diretor. Baz Luhrmann, com certeza, pode fazer bem melhor.