Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Brüno

NÃO SOBRA PEDRA SOBRE PEDRA

por Roberto Cunha

Dizer que o inglês Sacha Baron Cohen é um ator fora do contexto seria o mesmo que chover no molhado, já que seu sucesso como protagonista em Borat é a maior prova disto. Agora, o também roteirista, produtor e criatura polêmica de plantão chega aos cinemas brasileiros com o aguardado e igualmente polêmico Bruno, e quem é ele? Se você já teve a oportunidade de ler alguma coisa a respeito, já tem uma idéia de que se trata de um apresentador homossexual austríaco e uma superestrela do mundo fashion, que se vê desempregado de uma hora para outra e procurando desesperadamente se recolocar no mercado porque seu objetivo é ser "uber famous". 

O caminho escolhido para re-alcançar este objetivo é - novamente - os Estados Unidos. Bruno segue uma linha similar a de Borat com aquela coisa meio documentário, com o protagonista contando sua história, com forte sotaque, dando suas explicações em off e com cenas sempre carregadas de muito sarcasmo. Como acontece na "pérola" em que ele diz (chateado) ser a segunda vez que o mundo menospreza alguém que quer ser inovador - A primeira pessoa seria Hitler. O filme começa com cenas bem editadas, com ritmo eletrônico, no estilo das passarelas, e Bruno engata uma entrevista rápida com uma modelo onde sacaneia a inteligência das tops ao citar o grau de dificuldade que é raciocinar para usar as pernas "esquerda, direita, esquerda, direita... e ainda tem o pivô!". Mas é na sequência seguinte, que o longa deixa um recado para os desavisados, pois Bruno protagoniza, com seu namorado, cenas de sexo grosseiras (veladas com tarjas pretas), usando, inclusive, uma bicicleta ergométrica devidamente adaptada para o prazer, podendo constranger alguns espectadores, porque mesmo com humor e capaz de fazer rir, é inegável o objetivo de chocar. E ele consegue.

Dado o aviso, o personagem parte para a América disposto a ser o maior astro gay austríaco, segundo ele, depois apenas de Arnie (Schwarzenegger, o governator da California). Bruno ainda destila veneno para tudo que é lado, Curtindo com os pêlos de Salma Hayek, zombando de Paula Abdul e dos imigrantes mexicanos, confundindo o senador americano Ron Paul (candidato à presidência em 2008) com a drag queen Ru Paul. Ele ainda chama os atores Kevin Spacey e Tom Cruise de gay, e assim como Borat tinha o bordão "Jak sie masz!", Bruno também possui o seu hilário "Fantastisch" (fantástico em alemão). Ele faz de tudo para aparecer. Produz um programa piloto onde protagoniza coreografia com seu "bilau" que ainda fala: Bruno!, importa uma criança da África e ainda tenta, como ele mesmo diz, arrumar "um buraco" para defender, porque Sting já tem a Amazônia, Bono tem a Aids, então, ele tenta fazer isto com líderes do Oriente Médio. Não perca o clipe musical no final com direito a participação dos cantores Elton John, Bono Vox e Sting, do rapper Snoop Doggy e de Slash, guitarrista do Guns N' Roses.

O longa tem ritmo e momentos de boas risadas, mas é importante dizer que o humor homofóbico visita a bacia das almas de tão baixo. Seja numa sessão espiritual onde Bruno desenterra a dupla de falsos cantores Milli Vanilli,ou pratica sexo oral numa aula de karatê com as mais variadas posições e golpes com consolos ou mesmo, quem sabe, no esforço que faz para deixar de ser gay, participando de um swing hetero onde não se aguenta de tão homo que é e acaba caindo nas mãos de uma dominatrix. A verdade é que sobra para todo mundo. De Mel Gibson a Brad Pitt. Sua performance, por exemplo, dentro do octógono do UFC (ringue do famigerado vale tudo) é de cair o queixo. E no templo de machões, a reação das pessoas é pura realidade. Neste sentido, e em todos os outros, Bruno é "uber" mesmo. Não sobra pedra sobre pedra.