Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
A Fuga

Uma grata surpresa

por Roberto Cunha

Alguns filmes surpreendem pela simplicidade e, ao mesmo tempo, capacidade de prender a sua atenção diante da telona. E como isso não acontece a todo momento, é bom não deixar passar em branco quando isso acontece como agora com A Fuga, que chegou como quem não queria nada (parecia até que não teria sessão para a crítica) e é uma grata surpresa.

A história conta sobre dois irmãos extremamente grudados, Addison e Liza (Eric Bana e Olivia Wilde), que precisam se separar temporariamente durante uma mal sucedida fuga de um assalto, numa região gelada próxima a fronteira do Canadá. Enquanto ela conhece e acaba se envolvendo com um jovem recém libertado da prisão, seu impiedoso irmão vai deixando um rastro de sangue por onde passa, tendo a polícia local no seu encalço. A questão é que os dois combinaram de se encontrar novamente e não parece existir espaço ("Eu sou a sua garotinha") para uma terceira pessoa neste incestuoso relacionamento.

Sob o pretexto de discutir as relações familiares - em especial - a figura do pai, o roteiro do iniciante Zach Dean pode não primar pela originalidade, mas não dá ponto sem nó, amarrando os sentimentos em comum de diferentes personagens e garantindo para o pessoal da poltrona cerca de 90 minutos de boa tensão. A sequência inicial expondo o principal traço do protagonista - a frieza - é um exemplo.

Com boas imagens e diálogos honestos, a direção de Stefan Ruzowitzky é redonda. Premiado e podendo tirar onda de ter dirigido Os Falsários (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2008), ele extrai do elenco bons momentos, mesmo que modestos, no contexto da trama. Bana está bem como psicopata meio paternal e Wilde (a Thirteen no seriado House) também não fez feio. A competência de Kris Kristofferson, Sissy Spacek e Treat Williams não está em jogo.

Tendo como pano de fundo a tradicional ceia de Ação de Graças (mais "família" impossível), são servidos troca de tiros, facadas, doses de sangue e até perseguição em motos de neve. Bem ritmado e mantendo um climão crescente, as coisas se encaixam e a turma que adora apontar falhas vai encontrar, mas o entretenimento está garantido. Pena terem deixado escapar a chance de surpreender até o fim. Ainda assim, essa produção de baixo orçamento (US$ 12 milhões) funciona mais do que muito filme milionário do qual você, certamente, já pensou em fugir da sala escura.