Quebradoras de tabus
por Barbara DemerovDurante os anos 80 e 90, a diretora alemã Monika Treut colecionou histórias com diferentes mensagens sobre o mesmo tema: sexualidade e feminismo. Cada um dos depoimentos de Female Misbehaviour fala de um traço que marca as respectivas figuras e porquê elas, de certa forma, desafiaram a sociedade.
Ao simplesmente manter sua câmera estática e deixar seus personagens reais falarem, o objetivo da diretora nunca parece ser o de contar uma história linear, mas sim várias histórias não-lineares. É exatamente isso que torna seu filme tão diferenciado, pois ela apenas quer deixar as pessoas falarem sobre suas vidas, experiências e provações com a maior naturalidade possível.
Tal aproximação é bem direta, sem que haja uma narração em off, apenas com pausas entre um "filme" e outro. Assim, o filme se torna interessante o suficiente para proporcionar uma curiosidade perante ao que essas personagens têm a dizer, mas alguns dos depoimentos não acompanham a atmosfera incomum que nos é apresentada. Um deles, que mostra uma mulher fascinada por sadomasoquismo explicando lentamente quais são suas técnicas de trabalho para a câmera, não só é monótono como também não possui tanta relevância ao lado das demais histórias, que são de fato mais subversivas.
Contudo, essa desnivelação contida na segunda história não prejudica totalmente as restantes, mas é importante estar realmente preparado para imergir completamente no que há de mais trivial contido nas palavras proferidas. Os outros depoimentos contém doses de política, comportamento e sexualidade – especialmente a última, em que Max, um homem transexual, conta sua trajetória com franqueza até chegar ali, naquele momento de completa abertura com a diretora.
Female Misbehaviour fala sobre a quebra de paradigmas mas, em seu âmago, não quebra nenhum. Certamente, a época em que o filme foi lançado importou muito no que se diz respeito à recepção de histórias por pessoas que viviam, de certa forma, nas sombras – e isso faz com que o filme se torne mais interessante com o pensamento de que todos ali estão interligados mais que narrativamente. Como se estivessem falando com elas mesmas sem que ninguém estivesse por perto, é muito bonito (e, de certa forma, delicado) ouvir os pensamentos destas personagens em voz alta.
Filme visto no 26º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2018.