UM ERRO DE PONTARIA
por Roberto CunhaQuando um filme policial reúne um elenco de peso, a tendência é você chegar rendido na sala escura e se preparar porque vem chumbo grosso pela frente. Estranhamente, não é o que acontece em Força Policial. E a prova, para os mais atentos, está na própria abertura que mais parece um telefilme (créditos simples e trilha chinfrim) que são produções realizadas diretamente para a televisão. Algo que, por sinal, os americanos sabem fazer bem.
Mas a questão aqui é que estamos falando de cinema e um elenco com Edward Norton (O Incrível Hulk), Colin Farrell (O Sonho de Cassandra), Jon Voight (Lara Croft: Tomb Raider) e Noah Emmerich (O Show de Truman). Nomes que dariam a maior força para qualquer longametragem com uma boa história. Mas é aí que mora o perigo. Força Policial tem um argumento batido e um roteiro fraco, que não se aprofunda e consequentemente não envolve você na trama. Falar de corrupção policial não é novidade. A questão é como fazer com que isso deixe você algemado na cadeira e doido para saber aonde aquilo vai dar. A apresentação dos personagens segue o padrão estabelecido por Syd Field, uma autoridade quando o assunto é roteiro. E Força Policial "segue" uma família de policiais formada por Ray (Norton), que teve problemas quando trabalhava nas ruas e virou um burocrata na polícia, o patriarca Francis (Voight) e Francis Jr. (Emmerich), o filho mais velho, que tem a herança (além do nome) de seguir o caminho do pai dentro da corporação. Jimmy (Farrell) é o genro. E é um policial violento e destemperado. Com elementos assim seria até relativamente tranquilo realizar uma história contundente, mas o que se vê é um monte de cenas clichês e uma profusão de frases de efeito duvidoso como: "esqueça o passado", "que tipo de homem escolhe ser policial?" ou "mantenha a raiva, deixe o resto para trás". Falta densidade e o tiro sai pela culatra.
Na trama, o personagem de Norton desconfia da existência de policiais envolvidos em corrupção e tráfico de drogas. Mais até. Ele acredita que possa ter gente ligada a família participando do esquema. Mas tudo é tão previsível que você acaba por testemunhar cenas tão fracas que desacatam sua inteligência. Farrell cumpre bem sua missão de bancar o vilão da história com alguma (vá lá) dose de violência necessária para um filme que se passa na ruas de Nova York. Mas não passa disso. Destaque para a cena forte envolvendo uma mãe e seu bebê. Quanto ao resto da equipe, parecem olheiros vendo o filme passar e cumprindo seu papel de forma burocrática. A curiosidade fica por conta do celular deixado na cena de um crime que toca um "sambinha". De onde terá vindo essa idéia?! Será que estão querendo associar o ritmo ao crime por lá também? O título original (Pride & Glory), talvez, fizesse mais sentido do que a opção. Primeiro porque o filme não tem muita força e depois porque, mal ou bem, a história fala do orgulho e glória de ser um policial e toda aquela coisa de "proteger e servir" (to protect and serve), sempre colocada em xeque quando o contra-cheque do servidor tem menos força que o dinheiro da corrupção. O alerta foi dado. Você só erra o alvo se quiser.