Até quando perdemos algo ou alguém, às vezes recebemos algo em troca para levar adiante. No caso da personagem de Natália Lage em Hard, Sofia, o que ela ganhará a partir de uma perda é muita experiência e uma nova visão de mundo. Um fardo que, mais para frente, se tornará um modo de vida.
A série coproduzida pela HBO Latin America e a Gullane contará a história de uma viúva que acaba herdando a empresa do marido, mas com um detalhe que permaneceu desconhecido por muitos anos: a fonte de renda do falecido vinha de uma produtora pornográfica, ironicamente chamada de "Sofix". Além de lidar com o luto e a adaptação a uma nova vida pessoal, Sofia também terá de encontrar forças para deixar de ser dona de casa e se tornar, aos poucos, uma realizadora de filmes pornô.
À convite da HBO, o AdoroCinema acompanhou um dia de filmagens da produção, que será composta de três temporadas com 6 episódios cada e está sendo gravada simultaneamente, praticamente na ordem. O clima descontraído dos atores – e do set em si – refletia bastante na execução das cenas que pudemos conferir. Assim como a locação colorida, viva e com um toque oldschool, o elenco capitaneado por Natália Lage também exalava energia e humor de sobra.
Sim, humor. Mesmo tratando de assuntos que envolvem morte, luto e pornografia, a série (cuja direção geral é de Rodrigo Meirelles) também tem como foco abrir espaço para a comédia, de modo que a história seja contada com tom divertido. Para Caio Gullane, um dos produtores, tal leveza é essencial. "Eu acredito que é através do cômico que você consegue deixar clara a mensagem dramática", diz. Além disso, para ele a própria pornografia será um facilitador aos olhos do público: "Todo mundo fala disso, todo mundo pensa nisso. É um tema universal feito de forma colorida, divertida e pop – ao mesmo tempo em que mistura o drama de uma mulher que tem seus filhos e que vai precisar tomar conta de toda a produtora".
Adaptada de uma série francesa que foi ao ar há 10 anos, Hard irá utilizar como força narrativa um elemento que dará gás não só na trama de Sofia como também no enredo como um todo: o feminismo. "O que acontece com a Sofia é que ela acaba se deparando com um universo muito alegre, de pessoas livres, desencanadas com seus lugares. Ela vai aprendendo a se soltar também, a conhecer a humanidade dessas pessoas que, para ela, eram só figuras estereotipadas. A gente está fazendo uma série sobre preconceito, sobre como olhar o outro e olhar para si", diz Natália Lage.
Rodrigo Meirelles afirma que, se na série francesa não existe tal abordagem, na versão brasileira a veremos de sobra. "Vivemos um movimento feminista que é muito forte e eu acho que este assunto (a pornografia, o sexo) é um lugar muito bom para podermos trabalhar o feminismo. Trouxemos elementos que não existem na série original que compõem nossa visão. Acho que a pornografia é muito mal elaborada na ficção e nem é tão discutida. São poucos os filmes e séries que realmente abordam isso."
Felizmente, a natureza feminista não se dará apenas na frente das telas. De cinco roteiristas de Hard, quatro são mulheres (Juliana Rosenthal K, Patrícia Leme, Mariana Zatz e Laura Villar) e ainda há mais duas diretoras (Julia Jordão e Luiza Campos). O olhar feminino foi essencial para tornar a história mais fluida e criar um ambiente confortável para a equipe. "Como temos esse viés feminino que transforma a produtora, colocamos como algo fundamental ter mulheres dirigindo. A Sofix começa muito machista e, a partir do momento em que a Sofia assume a posição lá dentro, tudo muda. Até essa transformação da direção acontece; eu começo dirigindo os três primeiros episódios e, quando começa a transformação na produtora, uma mulher assume a direção por trás das câmeras. O olhar feminino entra narrativamente na transformação da Sofix – em como as cenas são filmadas, como o sexo é colocado, como o prazer feminino é observado...", explica Meirelles.
O estilo "abrasileirado" da adaptação televisiva agrada a todos na equipe, que acredita que o público irá se divertir com elementos ainda considerados tabus. "Estamos tentando trazer uma coisa mais nossa, para o público brasileiro. E o público da HBO já está mais do que acostumado com esta linguagem aberta e adulta. Não sei se é uma série família, mas estou muito confiante. Sexo e humor são a chave para a série dar certo", diz Lage. "Com relação à produção francesa nós demos um banho de atualidade nesta versão. Ela tem um valor de produção bem maior, com São Paulo como personagem", completa Gullane.
Hard ainda não possui data de estreia pela HBO Brasil.