#Btag;img height="85" src="http://br.web.img1.acsta.net/newsv7/16/07/12/16/16/464547.jpg" style="float: left; margin: 5px;" width="85" /#Etag; Stranger Things chegou se anunciando como uma carta de amor aos anos 1980, e as referências são promessa cumprida. É fácil se perder nas alusões e lembrar dos filmes que marcaram a época, principalmente os meios-de-carreira de Steven Spielberg. Com uma ambientação que remete à inocência perdida de uma década que já se foi, a nova série da Netflix aposta na nostalgia para conquistar o seu público.
A história, marcada pela simplicidade, gira em torno do desaparecimento do pequeno Will Byers (Noah Schnapp) e as tentativas de sua mãe Joyce (Winona Ryder) de encontrá-lo, apesar de não haver nenhuma pista do garoto. Os amigos Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) também vão sair em busca de Will, e assim acabam encontrando uma estranha garotinha chamada Onze (Millie Brown). Logo eles descobrem estarem envoltos em conspirações governamentais e correndo mais perigo do que imaginam.
Não é difícil reconhecer na trama e nos personagens referências a outras histórias. Da dinâmica impossível e briguenta entre irmãos ao clima bucólico de uma cidade pacata onde nada acontece e todos se conhecem e sabem das vidas um do outro, Stranger Things não traz exatamente novidades no seu roteiro, mas isso não faz dela menos interessante. Como um retrato do passado, é divertido e confortável encarar a produção através dos olhos inocentes das crianças, que aqui fazem o papel de protagonistas com muito mais afinco que os adultos. Winona Ryder brilha com acerto, mas Finn Wolfhard, Caleb McLaughlin, Gaten Matarazzo e Millie Brown são os verdadeiros destaques da trama. Das discussões afiadas sobre O Senhor dos Anéis e regras de RPG às investigações a respeito do mistério que os ronda, a interação entre os amigos é mostrada de forma tão honesta que convida o espectador a fazer parte daquilo no mesmo nível: imaginativo, descompromissado. Mágico.
Millie Brown, que interpreta Onze (ou Eleven), é uma figura central para a trama. Sua história é bela e angustiante, e a atriz está excelente na sua abordagem tão delicada de uma personagem tão singela e ao mesmo tempo muito endurecida. Finn Wolfhard entrega com seriedade seu Mike Wheeler, o "cabeça" da turma, enquanto Matarazzo e McLaughlin trazem para a cena uma dinâmica perfeita entre alívios cômicos e desesperos que só uma criança poderia sentir. A amizade infantil toma o centro da história de uma forma completamente orgânica, possibilitando que discussões mais sérias a respeito do quanto conhecem uns aos outros e do quanto a amizade de fato significa transmitam questionamentos universais através da ficção científica.
Embora a frase "melhora lá no 6º episódio" tenha se tornado comum entre o público para falar sobre séries cujas temporadas são divulgadas de uma vez (leia-se produções originais Netflix ou Amazon), não é caso para Stranger Things. São oito episódios da temporada, e a primeira metade faz um trabalho extremamente competente de ambientação de público e na construção de um clima de suspense bastante atrativo. Ainda assim, talvez o ritmo seja o grande vilão da história, visto que os quatro episódios finais apresentam uma considerável queda no que vinha tão rico. O problema não é exatamente cair em um desenvolvimento esperado e pouco inventivo, mas a reta final se deixa envolver por uma abstração que cansa e desanima ao tirar de cena os personagens e os problemas mais cativantes.
A série é a primeira criação dos irmãos Matt e Ross Duffer para a TV, e por isso mesmo é possível observar que eles não conseguem abordar a densidade nas relações interessoais com a mesma precisão que gostariam. Em termos simples, eles (ainda) não são J.J. Abrams, Steven Spielberg ou George Lucas. Mas é encorajador vê-los evocar para a modernidade do streaming a mágica que tomou conta com tanta habilidade de infâncias que ficaram guardadas no fundo do baú.
Nota: 3