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    Orange Is the New Black: Samira Wiley comenta as repercussões da quarta temporada

    Nem precisa avisar que a notícia tem spoiler, né?

    ATENÇÃO: Contém spoilers da quarta temporada de Orange Is the New Black.

    "Se preparem — com lenços", recomendou a atriz Samira Wiley antes da estreia da quarta temporada de Orange Is the New Black. A intérprete de Poussey Washington já sabia há mais de um ano qual era o destino da sua personagem no quarto ano da elogiada comédia dramática da Netflix, e precisou guardar a informação para si durante todo este tempo. Nem mesmo suas colegas de elenco sabiam o que aconteceria antes da gravação.

    O penúltimo episódio, intitulado "The Animals", foi dirigido por Matthew Weiner - o criador de Mad Men, e segundo Wiley a gravação teve clima de despedida. "Havia alguns rostos que eu não tinha visto em muito tempo, e pareceu uma despedida de verdade ao ter todos na mesma sala juntos. Muitos [dos membros do elenco] estavam mesmo de luto naquele dia", contou a atriz em entrevista ao The Hollywood Reporter.

    A morte de Poussey de uma certa forma remete aos movimentos Black Likes Matter I Can't Breathe, e reproduz a polêmica morte de Eric Garner pela Polícia de Nova York em 2014, que aconteceu sob circunstâncias extremamente parecidas com a da personagem. O jovem faleceu por estrangulamento enquanto estava sendo preso em um movimento extremamente rápido que acabou o sufocando.

    "Há pessoas que estão assistindo TV que podem não ter um relacionamento mais íntimo com o Black Lives Matter, mas elas conhecem Poussey. O que eu tenho lido na internet são pessoas profundamente tristes, algo que elas não conseguem esquecer. E isso é exatamente o que Jenji [Kohan] quer, que as pessoas sintam, ela quer que as pessoas não sejam capazes de deixar isso para trás."

    A morte de Poussey de fato deixou um rastro de pessoas devastadas. A partida da personagem pegou os fãs de surpresa, e para Samira, a decisão de abordar o tema com esta personagem tem justamente o objetivo de causar maior empatia.

    "Eu ouvi de alguns roteiristas que eles não poderiam fazer isso com qualquer personagem. Que precisava ser alguém que as pessoas amavam e com quem se importavam — sinto muito. Poussey vem de uma família amada, as pessoas se importavam com ela, e até a sexualidade dela foi abraçada pelo pai. E assim como muitos jovens, ela acabou caindo nas coisas erradas. Mas a sua vontade e o seu potencial de fazer alguma coisa dela mesma, e tirar essa parte dela — é um elemento muito poderoso da televisão", contou ao New York Times.

    Curiosamente, Samira Wiley conta que o momento da gravação da cena não foi um dos mais difíceis para ela, que já estava lidando com a perda há meses. "Todas as outras pessoas tinham acabado de descobrir o que iria acontecer. Então eles estavam lidando com o choque com o qual eu já havia lidado por meses. Eu tinha passado por todos os estágios (...) Então eu senti que parte de mim precisava cuidar deles, fazer com que soubessem que estava tudo bem — que eu estava bem — especialmente naquele dia. Eu não poderia simplesmente sentar e chorar como todo mundo."

    E embora a morte de uma personagem tão querida e tão cheia de vida seja de fato bastante sentida, ela existe para contar uma história. Gerar revolta e, por consequência, reflexão, é um resultado positivo da arriscada decisão. Os paralelos traçados com os movimentos Black Lives Matter e I Can't Breathe proporciam um grande momento para a televisão e para a audiência da série.

    Jojo Whilden/Netflix

    "Eles [os produtores] queriam que fosse de partir o coração. Feliz ou infelizmente, eles definitivamente conseguiram. Eu acho que é bom. Algumas pessoas que amam OITNB não sabem o que é o Black Lives Matter. Eles não têm um amigo negro e não têm um amigo gay, mas conhecem Poussey da TV e sentem como se a conhecessem. Eu conversei com uma outra repórter que disse que tinha assistido aos episódios e disse que o estômago dela doeu tanto que ela sentiu que iria vomitar enquanto via. Se nós estamos fazendo as pessoas se sentirem assim apenas com uma série de TV, então esse é o tipo de televisão que eu quero fazer. É o tipo de arte que eu quero fazer. Fazer as pessoas sentirem as coisas profundamente que as afeita de alguma forma. Saber que nós podemos alcançar essas reações é incrível", respondeu a atriz à Vulture.

    O estopim da revolta que gerou o poderoso gancho do final de temporada foi a humanização do guarda que matou Poussey. Ao contrário do que poderia se imaginar, ele não é "um dos babacas", e a atriz defende a abordagem.

    "Isso é vida real também. Honestamente, foi uma decisão inteligente da parte deles porque é complicado. A vida é complicada. Você poderia ter um daqueles guardas imbecis ser quem faria isso, mas então teria deixado os sentimentos tão simples e diretos. Não teria sido complicado como a vida é. É algo que você não imaginava que estava por vir. (....) No último episódio, você vê que eles eram dois jovens, e passaram um pelo outro nas ruas. Isso foi muito legal, só por ver que eram duas crianças passando uma pela outra na rua. Em alguns anos, um mataria o outro. Não é um crime perverso. É o sistema. É o que Jenji está tentando fazer. Ela está tentando destacar esse sistema corrupto que aflige todos os lados.

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