Contar histórias que refletem a situação sócio-político-econômica do Brasil (ou do mundo) já virou marca registrada de José Padilha. O diretor e produtor está por trás de obras como Ônibus 174 (2002), Tropa de Elite (2007) e sua sequência (2010), além da série Narcos (2015). Atualmente morando em Los Angeles, Padilha concedeu uma entrevista ao jornal O Globo e contou alguns detalhes sobre a nova série que está preparando, inspirada na Operação Lava-Jato.
Padilha contou que a série está em desenvolvimento a partir do livro que o jornalista Vladimir Neto está escrevendo: "Estamos lendo enquanto ele escreve, e organizando a história e seus personagens. Acho que ela ainda é mal compreendida pela população. Como funciona? O que faz cada um dos personagens e instituições envolvidos? Quais são as atribuições da Polícia Federal e dos procuradores? O que faz o Sérgio Moro? (...) Em suma, é revelar as engrenangens, ajudar a clareza, mas sobretudo mostrar o que as pessoas não podem ver, não têm acesso ao noticiário".
Padilha explicou também que tem interesse em "destrinchar os mecanismos da Lava-Jato", da delação premiada e mostrar que uma investigação policial é diferente de um instrumento político. Por isso, a série é financiada por um único meio de fora do país, e assim não traz um viés político atrelado. O diretor contou que a sua principal preocupação é justamente o fato de a série ser uma memória de um processo histórico atual, que ainda não acabou e está se desenrolando à medida que a produção acontece. "Ao mesmo tempo, será a fonte que gente da Inglaterra e de outros países terá para compreender o que acontece. (...) Não sou de esquerda nem de direita, nem marxista nem neoliberal, e vou me ater aos processos e dados da Lava-Jato."
Embora a identidade do financiador não tenha sido revelada, Padilha confirmou que é um patrocinador único, e que a série vai ser exibida em uma plataforma mundial. (Netflix, é você?). Segundo ele, não há uma confirmação da quantidade de temporadas, mas cada uma delas terá seis capítulos, e a estrutura será em "núcleos", algo semelhante ao que ele fez com Tropa de Elite: "Separo os personagens em grupos sociais, constituo núcleos e monto um modelo de como eles interagem e por quê. Os personagens têm peculiaridades, mas representam uma classe, um grupo, está implícito neles algo sobre o mundo do qual fazem parte. Minha intenção é mostrar "isso aqui é a investigação, e isso aqui é a reação a ela".
Este não é o único novo projeto de Padilha. O diretor também vai fazer uma nova série para o Showtime, intitulada The Brand. Com dez episódios, a série vai refletir os efeitos da cocaína nos EUA, através da dominação de uma gangue ariana e neonazista no sistema prisional entre as décadas de 1970 e 1980. Ambos os projetos ainda são recentes e não possuem previsão de estreia.