Promessa de sucesso de público. Este é Cilada.com, comédia derivada da série de TV Cilada que chega aos cinemas brasileiros em 8 de julho.
O AdoroCinema participou de uma entrevista concedida pelo ator e roteirista Bruno Mazzeo, protagonista do filme, e também pelo diretor José Alvarenga Jr. Nela a dupla conversa sobre o processo de realização do longa-metragem, as diferenças de linguagem entre TV e cinema e ainda projetos futuros. O resultado você pode conferir logo abaixo. Boa leitura!
DA SÉRIE PARA O CINEMA
Bruno Mazzeo disse que sempre houve a intenção de fazer um filme com o personagem, desde o início da série. “À medida que o programa foi se estabelecendo a vontade de fazer um filme foi ficando maior. Mas só foi acontecer quando o Alvarenga, que nunca teve algo a ver com a série, veio botar pilha. Já tínhamos uma parceria no 'A Diarista', ele veio e me procurou junto com meu sócio, Augusto Casé, propondo fazer o filme. Foi algo muito recente, entre o ‘vamos fazer um filme’ e hoje não chegou a dois anos.”
”Para os fãs da série, o filme é pertinente porque tem o Bruno Mazzeo e é uma grande cilada amorosa. Para quem não viu a série funciona porque o filme tem começo, meio e fim, não depende dela”, diz José Alvarenga Jr. “O importante em adaptar um seriado é não descaracterizar aquilo que fez dele um sucesso. No caso a essência é o personagem Bruno, a maneira como ele leva o mundo. Só que no filme o personagem está um pouco mais amadurecido, o que era necessário. Na série ele tinha um revés, dava um sorrisinho e dizia ok, aqui ele fica irritado. As pessoas quando envelhecem externam melhor seus sentimentos, não precisam se comprometer tanto com o olhar do outro.”
Mazzeo disse que sempre teve a preocupação de que o filme não parecesse ser um episódio esticado da série Cilada. “É uma questão que acontece com qualquer programa que vira filme e tinha que achar uma maneira diferente de fazer. Quem nunca viu pode gostar como uma comédia e, ao mesmo tempo, quem já via poderá se identificar também. O filme é muito mais pé na porta do que o programa, que era mais tranquilo. Achamos que o filme tinha que ter o diferencial do que o público não viu nos 53 episódios da TV. Então ele avança o sinal em alguns momentos, fica na linha tênue, mas sempre tentando manter o bom gosto. É muito mais próximo de Se Beber, Não Case! do que do Larry David, que era o caso do programa.”
SER PROTAGONISTA
Cilada.com é o primeiro protagonista no cinema interpretado por Bruno Mazzeo. Antes ele apenas havia tido uma participação especial em Muita Calma Nessa Hora, onde também escreveu o roteiro. “É o primeiro protagonista, mas de um personagem que já dominava, o que fez com que fosse menos doloroso. A interpretação é diferente e, quando cheguei no set, não a dominava. Contei muito com o Alvarenga, que tem uma experiência muito grande com comédia, para achar este tom. Tinha algumas características, que uso como recurso próprio como ator, que não funcionam em cinema, que é diferente do teatro e da TV. Nisso o Zé foi moldando, o que acabou sendo mais tranquilo. Agora já estou me acostumando, pois já vi muitas vezes o filme, mas a primeira vez que vi o trailer fiquei super envergonhado. As pessoas no cinema me olhavam, ficava muito sem graça”, declarou o ator.
”Existe a linguagem de TV e a de cinema”, diz Alvarenga. “O cinema precisa de uma movimentação grande, aquela tela precisa vibrar. Você dá ao público uma espécie de balé visual, cinema é coreografia. Você tem que colocar o ator dentro da sua câmera e aí vai acrescentando coisas. O ator traz coisas, a equipe também, muda o cenário e aí você vai fazendo isto. Na televisão a movimentação é muito frouxa, você tem quatro câmeras pegando o ator com uma marca simples. No cinema a marca é mais complexa, porque você precisa criar naquela tela enorme a sensação de que aquilo é em 3D real. Não o dos óculos, mas o de que o espaço está vivo. Este é o maior desafio de qualquer diretor de cinema. O ator é peça chave nisto e você tem que pedir a ele uma movimentação que normalmente ele não faria. Quanto mais natural for, melhor fica para o filme. Meu trabalho com o Bruno foi fazer isto e segurar o tamanho das expressões. A grande maioria das televisões do Brasil está em torno de 22 polegadas, então se a expressão cresceu na TV você não sente. Até porque TV é diálogo, mas o cinema não é só isto, nele a imagem tem uma força muito grande. Então preciso controlar a expressão do ator, colocá-lo dentro do que pede a cena. Este é o trabalho do diretor. O Bruno foi um ator disciplinado que correu atrás para entender o cinema.”
PERSONAGEM CANALHA
Questionado sobre o início do filme, quando o personagem Bruno é pego no flagra traindo a namorada, José Alvarenga explicou o porquê da opção. ”É legal começar por uma história barra pesada e, ao longo do filme, poder compor o personagem de forma que você veja outros lados dele de forma que eles se sobreponham ao lado canalha. Porque canalha ele é. Até filmes da Disney têm personagens canalhas, como o da série Piratas do Caribe. Em Enrolados, o príncipe é um canalha. Hoje em dia não dá mais para fazer sem relevo dos personagens, as coisas estão mais complexas e o mundo não quer mais isto.”
FERNANDA PAES LEME
Na série Cilada, a namorada do personagem Bruno era interpretada por Débora Lamm, que também está presente no filme. Entretanto, o posto de atual namorada agora é de Fernanda Paes Leme. José Alvarenga explicou o porquê da substituição. “Na série a gente sentia um amor entre amigos, não havia tesão. Traição, que era a história que estávamos abordando, é muito potente quando dá tesão. No filme toda a abordagem é em cima da sexualidade, então precisava de uma carga sexual neste casal. Foi necessária esta mudança, senão não chegaria nesta história. Pensamos numa outra atriz que tivesse esta resposta sensual e chegamos na Fernanda Paes Leme. Além disto, deixamos como homenagem a Débora Lamm falando dele no filme, como ex-namorada. Esta foi a jogada e não dava para ser o contrário.”
SUCESSO DA COMÉDIA
”A comédia sempre funciona, historicamente elas são grandes sucessos. De público, de crítica jamais. De reconhecimento também não, tanto que Chaplin jamais ganhou o Oscar e Renato Aragão nunca foi premiado, mesmo sendo o maior vendedor de bilhetes da história do cinema brasileiro. Talvez a pessoa se sinta mais atraída pelo entretenimento para sair de casa e pagar um ingresso. O que buscamos neste filme é a risada, não é um filme de reflexões. O que acontece também é que está mais fácil fazer cinema do que era algum tempo atrás. Antes a pessoa ia fazer como se fosse a única chance que ela terá na vida de fazer um filme, então tentava fazer a história que sempre sonhou. Hoje em dia o cara está fazendo um projeto e ali já tem outro, então fica mais livre para fazer uma comédia. Aí, ao mesmo tempo, vai quebrando estigmas e preconceitos, deixa de ver a comédia como algo menor. Daí um volume de pessoas vai ver e já volta a gostar do cinema brasileiro. Fazer só filme cabeçudo afasta o público. É importante que ele exista, mas também. Você tem que ter opções”, disse Mazzeo.
TV x CINEMA
Cilada.com é mais pesado que a série de TV, assim como aconteceu com Os Normais, cuja série e filmes foram dirigidos por José Alvarenga Jr. “Os Normais já era o feeling de que no cinema você pode falar de coisas que na TV não pode”, disse o diretor. “A vantagem de fazer um filme é esta. A TV brasileira tem uma homogeneidade de público e atinge tantos Brasis que você não pode falar tudo. Não só porque há uma censura indicativa, mas também porque internamente há uma guerra para que se possa alargar os paladares. Até porque senão ficaremos repetindo as mesmas coisas sempre. No cinema há esta possibilidade, mas é preciso colocar estas transgressões de forma que o espectador possa sentir uma rateada, mas achar que está tudo certo. Acho que cinema é um bom campo para falar da sexualidade, por exemplo. E por que não falar? A sexualidade do brasileiro é bem humorada, uma paquera sempre tem uma certa sacanagem brincalhona que você não encontra em lugar algum do mundo. O humor não é só o prazer do filme, é através do riso levar o cara para um lugar onde ele não iria se fosse um papo sério.”
TROCA ENTRE CINEMA E TV
Alvarenga diz que o cinema sempre influenciou a TV e vice-versa. “Para quem trabalha neste meio é uma mão dupla. De onde vem a inspiração você não sabe. Fazer um filme é um processo doloroso, você fica dois anos batalhando e mexe com a sua expectativa. Para ficar este tempo todo é preciso ter algo bom em mãos, é a tal da inspiração. A troca entre cinema e televisão não é importante em primeiro momento, mas quando você chega no distribuidor. Ele vai pegar seis projetos para ler e, quando vê que tem algo ligado à TV, chama a atenção e resolve colocar o dinheiro dele. Mas até chegar ali é preciso fazer um projeto. Como diretor artístico da Rede Globo recebo todo dia ideias maravilhosas, que não se transformam em projetos. O YouTube mostra isso toda hora. Quais são os grandes vídeos dele? São poucos. São uns 10, os outros são uma porcaria mas com ideias.”
SE BEBER, NÃO CASE! PARTE II
Em Cilada.com há uma situação idêntica à de Se Beber, Não Case! Parte II, lançado poucas semanas antes. Questionado sobre a semelhança, Alvarenga não vê problemas. “Quando vi o filme achei um barato! Simplesmente aconteceu. Temos é que tirar partido, pois pensamos igual ao Todd Phillips, que para mim é um gênio. Não estou preocupado em ser o primeiro, porque a piada continua sendo boa. O diálogo que a gente tem eles não têm, o nosso é melhor que o deles. Eles fizeram com menos pudor do que eu. Esta foi uma cena complicada para levar adiante, foi muito questionada. Acreditamos porque senão esta questão ficaria em outro tipo de gueto. É uma transgressão, tenho orgulho desta cena. Se o humor não tiver este componente não vale a pena, aí irá cair no bordão e no humor quase infantil, de repetição. É o famoso pastelão, o cara que cai e tropeça. Esta nova geração do humor tem este desejo de transgredir na sexualidade também, o que é importante. Esta é a nossa briga como artista. Tem riscos? Têm, mas se não for assim não vale a pena.”
EXPECTATIVA DE PÚBLICO
Falar sobre espectativa de público é sempre espinhoso para quem lida com cinema, pela dificuldade de previsão. Bruno Mazzeo não teve medo em dizer números. “Cinema depende muito de algumas circunstâncias, tipo a primeira semana em exibição. Acho que dá para fazer entre 2 e 2,5 milhões, até pelo número de salas.”
CONCORRÊNCIA ACIRRADA
Cilada.com estreia enfrentando adversários de peso nos cinemas, como Transformers: O Lado Oculto da Lua e o ainda inédito Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2. Bruno Mazzeo disse que esta disputa foi intencional. “Fizemos esta opção de lançar em julho, poderia ter sido em maio ou qualquer outro mês. Teoricamente é a pior época, porque vêm os blockbusters de Hollywood, mas queríamos marcar posição. Lembro quando era criança de ver nas férias os filmes do Renato Aragão, que tinham fila no quarteirão. Desde os Trapalhões não se fez mais, então por que não se temos um filme que acreditamos ter esta capacidade de ser popular, uma comédia leve e voltada para o público jovem? É o nosso país, a nossa língua, então resolvemos encarar.”
”Pode não dar certo, mas acho um filme bom”, diz Alvarenga. “Não estamos querendo brigar com o cinema americano, que é fabuloso. Vou ver Harry Potter, Transformers em 3D, Capitão América, estarei lá. Mas acho que quem quiser rir não vai encontrar o riso em nenhum destes filmes. Estamos propondo a experiência do riso como inovadora.”
TRILOGIA DO HUMOR
”Isso é brincadeira do (Augusto) Casé, não levo a sério”, diz Bruno Mazzeo. “Ele fala porque são os nossos três primeiros filmes e começaram meio juntos, Muita Calma Nessa Hora, Cilada.com e E Aí, Comeu?, cujas filmagens começarão no final de outubro para lançar nesta mesma época, em julho do ano que vem. São filmes muito diferentes entre si, com outras propostas.”
SEQUÊNCIA
Questionado sobre uma possível sequência, Bruno Mazzeo confirmou que há o interesse. “Há a ideia, mas não será Cilada.com 2. Incluímos o .com justamente para não usá-lo de novo, deve ser outra cilada com alguma outra coisa. A gente deve fazer o segundo filme, só falta a ideia da história. Ainda não temos”.
José Alvarenga Jr. não confirmou que estará mais uma vez à frente do longa-metragem. Até porque tem outros projetos para cinema, como A Invasão do Morro do Alemão, Intimidades entre Estranhos e Minha Mãe é uma Peça. Mas não descartou a possibilidade. “Se for um sucesso, se todo mundo gostar muito, aí faço o 2. Mas não está nas minhas urgências de momento.”
A INVASÃO DO MORRO DO ALEMÃO
Aproveitamos a oportunidade para perguntar a José Alvarenga sobre alguns de seus projetos para cinema. Produzido por Daniel Filho e José Padilha, A Invasão do Morro do Alemão abordará o conflito ocorrido em novembro do ano passado, no Rio de Janeiro. “Será a partir do livro do Rodrigo Pimentel, que será lançado agora. Acho que a gente junta três cabeças muito interessantes e muito vitoriosas do cinema. Se juntar nós três, a soma de bilhetes será absurda! Temos todos esta visão de que dá para fazer bom cinema para a massa. As pessoas viram público e isto vira bilheteria, que gera dinheiro. Daí vem o capitalismo, que faz filme ruim. É assim que o Brasil funciona, mas a gente acha o contrário. Eu, Padilha e Daniel, cada uma na sua medida, acreditamos na mesma coisa, então esta é uma proposta que me interessa muito. É um estilo que já faço no ‘Força Tarefa’.”
INTIMIDADES ENTRE ESTRANHOS
”Este é um projeto que eu, Leoni e Frejat estamos desenvolvendo há um ano e meio. É a história de um quase adolescente que se apaixona por uma mulher casada. É a versão de um filme que marcou muito a minha geração, que foi O Verão de 42. Será um musical, não porque os atores irão cantar, mas porque o garoto é músico. Então a maneira dele se aproximar desta mulher é através das músicas que ele faz. Frejat e Leoni já tem sete músicas prontas, a dúvida agora é se eles lançam o disco antes do filme. Eu escrevi uma pré-sinopse grande, mas ainda preciso escrever o texto. Sei muito bem como contar esta história, mas ainda não encontrei o tempo necessário. Este é um projeto que tem um tempo meu de maturação que eles sabem que daqui a pouco eu sento e, acho, em um mês termino”, disse José Alvarenga.
MINHA MÃE É UMA PEÇA
”Fui convidado pelo Paulo Gustavo, meu apadrinhado, para dirigir o filme. Estou aguardando o desenvolvimento do roteiro. Este, Intimidades entre Estranhos e A Invasão do Morro do Alemão são os três projetos que vou tocando em paralelo com minha vida real, que é a de diretor da Globo", declarou Alvarenga.