A criatividade humana não conhece limites, seja para o bem ou para o mal - ou para filmes estrelados pelos maiores, mais antigos e letais predadores dos oceanos terrestres: os tubarões.
De acordo com dados do ISAF (International Shark Attack File), grupo de pesquisa dedicado a analisar e a compreender por que e em que condições tubarões atacam e/ou matam seres humanos, quase 3000 ataques foram oficialmente registrados em 58 anos. Destes casos, contabilizados entre 1958 e 2016, 439 deles acarretaram óbitos. A letalidade associada a estas criaturas gera um fascínio mórbido, que cresce ao lado do medo - e, assim, não é difícil entender por que o cinema é tão deslumbrado pelos tubarões.
Aproveitando, portanto, o lançamento de Medo Profundo, terror coestrelado por Mandy Moore, Claire Holt e Matthew Modine, na última quinta-feira, dia 8, o AdoroCinema decidiu preparar um compilado com os 10 tubarões mais importantes, assustadores, essenciais e/ou simplesmente bizarros da história da sétima arte.
TUBARÃO
Uma lista com os mais impactantes reis dos mares da sétima arte não poderia começar com outro candidato, uma vez que o tubarão imprescindível, o mais aterrorizante deste seleto grupo, segue sendo o de Steven Spielberg. Assim como a clássica sequência de Psicose, que entrou para a história também por causa de sua curta duração de apenas 52 segundos, o monstro marinho em questão - cujo protótipo foi carinhosamente apelidado de Bruce, nome que vem acompanhando os animais da espécie desde então - não precisou de muito tempo de tela para assombrar os cinéfilos. Sua limitada presença foi motivada por uma falha técnica, que fez com que Spielberg só pudesse mostrar alguns frames da defeituosa criação robótica a cada sequência. Investindo mais em nossa imaginação como fez Roman Polanski em O Bebê de Rosemary - afinal, o filho do diabo aparece ou não? - do que na imagem em si, o diretor estadunidense conseguiu gerar suspense através do que não pode ser visto, captando a essência mais profunda e o pânico provocado pelos inauditos ataques de tubarão. Dessa forma, em 1975, nascia um verdadeiro fenômeno cultural que arrastou multidões por onde passou. Baseado no livro homônimo de Peter Benchley, Tubarão arrecadou tantos, mas tantos dólares (mais de US$ 470 milhões) que tornou-se a pedra fundamental da moderna indústria dos blockbusters em Hollywood.
ÁGUAS RASAS
Durante décadas, o terror magistral e imensamente lucrativo de Spielberg foi um dos únicos filmes “sérios” sobre tubarões. Sejam do ciclo de produções similares que Tubarão gerou após seu lançamento ou as sequências “diretas” do clássico da década de 1970, poucos longas conseguiram repetir, modernizar ou evocar, de fato, o horror registado pelo cineasta americano. Uma destas felizes obras é Águas Rasas, de 2016. Dirigido por Jaume Collet-Serra (O Passageiro) e estrelado por Blake Lively (Café Society), o thriller traz uma premissa assustadoramente simples: uma bela surfista fica isolada, e ferida em alto-mar, precisa se proteger da forma como puder das investidas de um faminto e sanguinário tubarão. Apesar de não possuir a genialidade da condução de Spielberg, Águas Rasas incorpora e retrata com objetividade e um pé muito bem-vindo no entretenimento a sensação de estar encurralado pelo grande predador do oceano. Direto ao ponto e com saídas visuais inteligentes, o suspense é "ágil, criativo e atraente", como bem define a crítica 3,5 estrelas do AdoroCinema. Em Águas Rasas, portanto, só há espaço para Lively entregar uma de suas performances mais seguras e Serra comandar o espetáculo com o pulso firme de um veterano - e, no fim das contas, filmes de tubarão não precisam de mais do que isso.
MAR ABERTO
Para os atuais padrões de Hollywood, US$ 120 mil não é nada - especialmente quando o assunto é orçamento. É por isso mesmo que quando o diretor Chris Kentis decidiu utilizar tal quantia para produzir Mar Aberto, um filme de tubarão dos idos de 2003, a ideia pareceu absurda. À época, as verbas de produção dos blockbusters já haviam ultrapassado e muito a barreira dos US$ 100 milhões; o próprio Tubarão, aliás, custou US$ 7 milhões para ser produzido em 1975, cifra que equivaleria a US$ 23 milhões no período das gravações de Mar Aberto. Mas o cineasta não deu ouvidos e empregando um estilo quase documental e minimalista de cinema, entregou um dos suspenses mais surpreendentes do ano. Ainda que não tenha sido particularmente aprovado pelo público, Mar Aberto conquistou a crítica, sendo descrito como um "filme de baixo orçamento com momentos de alta intensidade", e rendeu US$ 55 milhões nas bilheterias. Nada mal para quem só tinha US$ 120 mil para gastar em Hollywood, não é verdade?