Em 2002, visivelmente emocionada, Halle Berry foi às lágrimas na cerimônia do Oscar ao ser premiada como melhor atriz por seu trabalho em A Última Ceia. Na ocasião, a atriz negra se tornou a primeira mulher não-branca a vencer um prêmio principal de atuação e dedicou seu prêmio "a todas as mulheres de cor anônimas e sem rosto que agora têm uma chance porque esta porta foi aberta nesta noite."
Uma década e meia depois, nenhuma outra atriz negra venceu o mesmo prêmio que Berry e a atriz se disse "profundamente magoada" com isso. Em entrevista para a Teen Vogue, a atriz afirmou que a constatação é "problemática para dizer o mínimo".
Em 2016, apenas atores e atrizes brancos ocuparam as 20 indicações aos prêmios de atuação, o que mobilizou cinéfilos e ativistas nas redes sociais que expressaram seu descontentamento em publicações com a hashtag #OscarsSoWhite. Berry afirmou que testemunhar o que ela considerou um despretígio ao trabalho de atores não-brancos foi "um dos momentos mais baixos da minha vida profissional". O assunto também gerou um intenso debate entre a classe artística, a Academia anunciou que daria mais atenção para o assunto e no ano seguinte a lista de indicados teve mais diversidade racial do que no ano anterior.
"Eu não me lembro de onde veio aquele discurso porque eu não tinha nada planejado", contou a atriz ao mencionar seu discurso da vitória no Oscar. "Eu tinha certeza de que a Sissy Spacek iria vencer. Aquele sentimento foi apenas o que estava ruminando no meu espírito durante todo o processo." Entretanto, após o #OscarsSoWhite, a atriz se sentiu frustrada. "Eu pensei: Nossa, aquele momento não significou nada. Nada. Eu pensava que tinha significado alguma coisa, mas acho que não significou nada."
Entre 2002 e 2017, apenas dois atores negros (Jamie Foxx e Forest Whitaker) venceram o Oscar na categoria principal. As atrizes negras tiveram mais destaque na categoria de melhor atriz coadjuvante, que rendeu prêmios para Jennifer Hudson, Mo'Nique, Octavia Spencer, Lupita Nyong'o e Viola Davis no mesmo período. Desde a vitória de Berry, quatro atrizes negras (Gabourey Sidibe, Viola Davis, Quvenzhané Wallis e Ruth Negga) foram indicadas ao prêmio principal de atuação, mas não venceram.
"Eu fiquei profundamente triste com isso", continuou Berry. "Isso me inspirou a tentar me envolver de outras maneiras e é por isso que eu quero começar a dirigir. Eu quero produzir mais filmes. Eu quero começar a fazer mais oportunidades para pessoas de cor. Eu tenho conversas profundas com membros da Academia e eu estou tentando pensar numa maneira de inserir mais diversidade na Academia."
Na última quinta-feira, a Academia divulgou a lista com os 774 novos atores, diretores e demais profissionais do cinema que foram convidados para compor o corpo de membros da instituição responsável pelo Oscar. Entre 2015 e 2017, o número de mulheres convidadas para se juntarem à Academia cresceu 359%, mas elas ainda são minoria. A lista de convidados deste ano conta com 39% de mulheres e 61% de homens entre os profissionais selecionados. Também entre 2015 e 2017, o número de integrantes não-brancos da Academia cresceu 331%, mas negros, asiáticos e membros de outras etnias ainda representam apenas 13% do total de membros da instituição.