“O ‘japonês’ da Federal tá aí?”, pergunta Lula. “Não”, responde o agente. “Que bom, porque era bem capaz dele roubar tudo por aqui”, debocha o ex-presidente.
Na última quarta-feira, 8, o AdoroCinema acompanhou as filmagens de Polícia Federal – A Lei É Para Todos, o filme sobre a operação Lava Jato, na reta final das filmagens, que terminam na capital paulista perto do Carnaval.
A cena em questão – que não pôde ser filmada – dava conta do momento em que a Polícia Federal bate na porta do apartamento de Lula e o intima a depor – o tal processo de condução coercitiva. Na “vida real”, a cena aconteceu em São Paulo (o político foi conduzido para prestar depoimento no aeroporto de Congonhas). Na ficção, ela foi filmada em um apartamento de um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
“Foi um momento onde o ar estava denso. A polícia estava com muito receio. É uma situação muito delicada, fazer o interrogatório de um ex-presidente que saiu com uma popularidade altíssima”, contextualiza o diretor Marcelo Antunez (Até que a Sorte nos Separe 3).
Se o deslocamento geográfico é fantasioso, por um lado, o diálogo promete ser real (inclusive a referência ao agente "oriental" que ficou famoso ao aparecer ao lado das "celebridades políticas" presas). Afinal, o realizador e sua equipe – incluído, aí, o elenco – tiveram livre acesso aos depoimentos dos políticos e delegados envolvidos no caso.
“O filme é uma cópia disso tudo. Ipsis litteris, até”, garante Ary Fontoura, o intérprete de Lula, com quem, aliás, o ator não se acha parecido. A (falta de) semelhança física com o político de 71 anos pouco importa para o intérprete de 84.
“Convencionou-se apenas que é um personagem que tem o nome dele [Lula], com um ator executando o seu trabalho. Sem essa preocupação de transformar numa caricatura ou relembrá-lo de uma forma absoluta, fisicamente ou com os trejeitos dele”, explica. A barba, no entanto, ficou (ou melhor, cresceu).
No papel do delegado que fez a condução coercitiva está o ator Antonio Calloni. Ele não interpreta o delegado Luciano Flores – responsável pela ação (de volta para a vida real). No filme, Calloni vive Ivan Romano. Nem adianta jogar o nome no Google porque se trata de um personagem fictício. Na busca, talvez você se depare com um tal de Igor Romário, esse, sim, um dos chefes da operação.
“Não estou fazendo o Igor. É um personagem baseado no Igor e em outros delegados também”, se adianta o ator, que avisa: “Não existe essa preocupação de tornar esses personagens heroicos. Eles não são heróis. Eles são trabalhadores”.
Se a Lava Jato é seletiva ou a salvação da moralidade política brasileira, essa é uma opinião que gera discussões acaloradas país afora. Com Polícia Federal – A Lei É para Todos não deve ser diferente. “O filme tem que gerar um debate. O filme Não foi feito para vocês concordarem com ele”, provoca Antonio Calloni, sobre o longa que, segundo o diretor, guarda paralelos com Spotlight – Segredos Revelados e A Grande Aposta.
Confira a entrevista completa no vídeo.
Polícia Federal – A Lei É para Todos é a primeira parte de uma trilogia, que tem previsão de estreia em julho desse ano.