Apesar de ter ficado mais conhecida do grande público devido à novela A Regra do Jogo, Maeve Jinkings já há alguns anos tem se destacado no cinema brasileiro. A começar por O Som ao Redor, onde ficou marcada pela icônica sequência da máquina de lavar roupas, mas também por Amor, Plástico e Barulho (com sua impressionante interpretação da canção "Chupa Que É de Uva") e no recente Boi Neón, onde mais uma vez brilhou como Galega.
Após repetir a parceria com o diretor Kleber Mendonça Filho e interpretar a filha de Sônia Braga em Aquarius, a atriz está também na Croisette para, juntamente com cerca de 40 pessoas da equipe, promover o lançamento mundial no Festival de Cannes. Uma estreia bastante esperada, visto que o longa-metragem foi listado pela Cahiérs du Cinéma como um dos filmes mais aguardados de 2016.
Dois dias antes da primeira exibição, conversamos com Maeve sobre os mais diversos assuntos: carreira, interesses, diferenças entre cinema e TV e até mesmo política. Nesta matéria iremos nos ater ao trecho relacionado a Aquarius, mas ainda nesta semana publicaremos todo o restante deste rico material. Fique de olho!
ADOROCINEMA: Aquarius prestes a estrear e há uma expectativa enorme vinda de todo mundo que torce pelo cinema brasileiro. Como tem sido lidar com esta expectativa?
MAEVE JINKINGS: Sempre tento não pensar muito nisso, porque fica muito pesado. Quando estou em um festival tento sempre curtir o festival, conhecer o lugar, ver um monte de filmes, quais artistas novos posso conhecer... Mas é claro que comove muito ver tantos colegas brasileiros juntos, torcendo. Acho que é um pouco de torcida de seleção em campo.
AC: Creio que a palavra é exatamente esta: torcida. Todo mundo ficou muito feliz de Aquarius ter sido selecionado para a mostra competitiva, e agora existe esta torcida nem tanto por premiação, mas que ele seja bem recebido.
MAEVE: Faz bem para a nossa auto-estima. Cinema é identidade também. Estar aqui e ter a chance de falar do que é ser brasileiro hoje, de alguma maneira, ainda mais no atual contexto político. É compartilhar com outras pessoas, algo muito poderoso.
AC: Você já pôde ver o filme?
MAEVE: Não vi a versão final ainda, mas um corte bem adiantado. E fiquei muito feliz com o que vi.
AC: O que você pode adiantar sobre o filme, cuja história é tão envolta em mistério?
MAEVE: Não posso falar muita coisa (risos) Eu sou a filha da Sonia [Braga], que é uma pessoa incrível, muito generosa e bem-humorada. No dia em que a conheci fiquei nervosa, mas ela é uma pessoa que desmistifica a si mesmo muito rapidamente. O Kleber [Mendonça Filho] tem um grande talento ao montar a equipe que irá trabalhar com ele, o que é uma boa parte da receita de sucesso. Foi muito bom trabalhar em Aquarius, assim como é muito bom estar todo mundo junto aqui. Vieram quase 40 pessoas! A gente até estava junto quando saiu a indicação.
AC: Vocês souberam quando a indicação foi anunciada mesmo, não com alguma antecedência?
MAEVE: A gente soube um dia antes apenas, mas sem saber em qual sessão. Achávamos que seria na Un Certain Regard, mas que existia uma chance de ir para a competitiva. Eu e a Sonia estávamos em Nova York quando recebemos a notícia e ficamos muito emocionadas. A Sonia mesmo disse o quão especial era ir para Cannes justamente com este filme, pelo que significa para a carreira dela e por esta amizade que nasceu entre a equipe.
AC: Este é o seu segundo filme com o Kleber. Você falou em equipe e amizade, em relação a O Som ao Redor o que pôde perceber de diferença em relação às filmagens?
MAEVE: Filmei Aquarius quando estava começando a gravar A Regra do Jogo, que era um universo muito novo para mim. Então quando fui ao Recife me senti voltando a um lugar muito conhecido, não só pela questão espacial mas porque muita gente de O Som ao Redor estava em Aquarius. E também por conta do temperamento do Kleber. É engraçado que muita coisa aconteceu após o filme, para todos nós, e ao mesmo tempo somos nós. Isso foi muito importante para mim, em um momento em que estava fazendo algo tão diferente, como televisão. E é engraçado que Aquarius é muito diferente de O Som ao Redor mas, ao mesmo tempo, é o Kleber, é o olhar dele. Você percebe que é o mesmo cara que fez os dois filmes.
AC: Você também estará no próximo filme dele, Bacurau?
MAEVE: Já falei que, se ele não me chamar, eu vou atrapalhar as filmagens! Quando ele disser silêncio vai aparecer uma louca gritando no set (risos)