No cinema mudo e no cinema moderno, dois grandes cineastas retrataram o cinema como ninguém.
Buster Keaton
Sherlock Jr. (1924)
Assim como a protagonista de Mulholland Drive, Buster Keaton recorre ao universo onírico para realizar não só um, mas dois desejos em um (ingressar no cinema e bancar o águia), num singelo e até poético uso de metalinguagem que celebrou, há quase 100 anos, uma possibilidade que se abria com a invenção do cinema: sonhar.
O Homem das Novidades (1928)
Esse mar de câmeras ilustra bem o auxílio da lente como mecanismo de alcance, captação e reprodução da realidade. Eis a refinada metáfora de Buster Keaton para a extrema importância que ele acreditava ter o cinema em nossas vidas. Duvida?
Woody Allen
Memórias (1980)
Uma auto-análise de Woody Allen sobre seus anseios e inseguranças pessoais — que, como bem sabemos, já perpassam todos os seus filmes. A diferença é a metalinguagem que aqui se estabelece nesse sentido, mais intensa, evidente, com o cineasta comentando os caminhos artísticos percorridos e que deseja rumar em sua obra. Um dos grandes filmes do diretor.
Dirigindo no Escuro (2002)
Um cineasta veterano tem sua grande chance de retorno com uma produção milionária — e então adquire cegueira psicológica (!). Dirigindo no Escuro pode não ser um grande filme na carreira de Woody Allen, mas tem uma sacada inspirada e alguns momentos realmente divertidos. E, por fim, a própria exposição da figura do diretor como a de alguém que se vende a qualquer projeto (sem distinção, checagem ou brio artístico) para retomar a glória de outrora está longe, bem longe de ser uma irrealidade.