Quando ficção e realidade se confundem...
Metalinguagem
A Rosa Púrpura do Cairo (1985)
Sim, eu sei que basicamente todos os outros filmes se utilizam da metalinguagem, mas, se existe um expoente do recurso no cinema (inclusive em termos de popularidade), esse é A Rosa Púrpura do Cairo. Woody Allen dá vida real a um personagem da ficção, ofertando um pouco de alegria à realidade melancólica de uma garçonete apaixonada por cinema durante a Grande Depressão. A lição é um tanto cruel — a fuga pela via cinematográfica será sempre efêmera —, o filme é inteligente, tocante e acessível.
Um dos grandes mestres do terror, o já saudoso Wes Craven vivia em busca de um antídoto para a crise criativa do gênero quando encontrou o roteirista Kevin Williamson nos anos 90. Através da metalinguagem, a dupla criou um vilão (o icônico Ghostface) que mata suas vítimas de acordo com as fórmulas dos filmes de terror. O jogo foi comprado pelo público e a dobradinha realizou mais duas ótimas sequências: Pânico 2, discutindo a relevância das continuações dos filmes de terror; e Pânico 4, que critica sem perder o tom de autossátira ao relacionar a instantaneidade das novas tecnologias à preguiça da indústria na realização de remakes que, embora pobres, serão, ainda assim, consumidos como fast-food pelas nova gerações.
Ficção é realidade
A Sombra do Vampiro (2000)
Nosferatu de F.W. Murnau é o filme dentro do filme de E. Elias Merhige. Longe de ser um documentário ou uma transposição fiel das gravações da obra original, essa ficção cria em cima da incrível atuação de Max Schreck como o Conde Drácula no clássico de 1922: de tão realista, não seria o ator um biografado, o macabro protagonista? É Willem Dafoe quem dá vida ao vampiro real, lançado como uma crítica ao método em que muitos atores mergulham em prol de uma atuação realista. E é o Murnau da ficção (interpretado por John Malkovich) o verdadeiro monstro do filme, pondo todos em risco em nome da arte.
Bang Bang (1971)
O cinema de Andrea Tonacci traça uma tênue linha entre realidade e ficção e caminha sobre ela, tal qual o vacilante protagonista de Bang Bang. Em construção e descontrução, ousado e totalmente zoado, eis um filme nacional divertido e genial.