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    Exclusivo: "A gente nunca esquece a adolescência", afirma diretor de Eu, Você e a Garota que Vai Morrer

    O cineasta Alfonso Gomez-Rejon falou sobre a comédia dramática, um dos destaques do Festival do Rio 2015.

    Chris Pizzello/Invision/AP

    Talvez você ainda não conheça o diretor Alfonso Gomez-Rejon, mas o nome do cineasta está se tornando cada vez mais respeitado na indústria: depois de dirigir vários episódios das séries Glee e American Horror Story, realizou um projeto de terror e recebeu a proposta de dirigir Eu, Você e a Garota que Vai Morrer, baseado no livro de sucesso de Jesse Andrews. O resultado foi um grande sucesso de público e de crítica, além do prêmio máximo no festival de Sundance.

    A comédia dramática apresenta a amizade improvável entre Greg (Thomas Mann), e Rachel (Olivia Cooke), sua colega de escola, vítima de leucemia. Quando a mãe dele força uma aproximação entre os dois, a dupla descobre ter muito em comum. Com a ajuda do amigo Earl (RJ Cyler), eles driblam os problemas da adolescência usando a criatividade e parodiando filmes clássicos em versões caseiras.

    Nós conversamos com o simpático diretor, que explicou o processo de criação e mostrou como este filme de encomenda se tornou um projeto bastante pessoal para ele. Eu, Você e a Garota que Vai Morrer ainda tem quatro exibições no festival do Rio, nos dias 10, 13 e 14 de outubro. Confira nossa conversa:

    Como surgiu a oportunidade de dirigir o filme?

    Recebi o roteiro pelo meu agente. Ele chamou a minha atenção por ter integrado a Back List, que é a lista de alguns ótimos roteiros ainda não produzidos. Eu nem tinha intenção de ler outros roteiros, já que prefiro escrever os meus próprios. Mas quando li essa história, fiquei bastante comovido, porque me lembrou da minha própria adolescência. Então, eu fiz questão de mostrar que poderia fazer um trabalho bem feito.

    O roteiro é do próprio autor do livro, Jesse Andrews, que nunca tinha escrito para o cinema antes. Como foi este processo? 

    Foi muito fácil. Quando entrei no processo, o roteiro já estava em fase avançada, e nós tínhamos pouco tempo até a filmagem. Nós demos uma polida no texto juntos, mas não tinha muito a modificar. Jesse Andrews é um ser humano fantástico, e o processo foi ótimo.

    Você tem bastante experiência com histórias de terror. Fazer uma comédia representou um desafio?

    Como diretor, sempre busco novas aventuras, e novos gêneros. Para mim, neste caso, o gênero era menos importante que o tema, que me tocou. Se esta história estivesse em uma trama de terror, talvez eu tivesse me apaixonado por ela também. Existe algo no personagem Greg que despertou a minha identificação. Eu vi neste projeto a chance de fazer um filme pessoal pela primeira vez, e por isso aproveitei a oportunidade.

    Em uma entrevista, a produtora executiva Nora Skinner afirmou que você "nunca faz as coisas do jeito mais fácil". O que ela quer dizer com isso? 

    Não sei! Eu gosto de experimentar, tentar coisas novas. Estava muito preocupado com a grande quantidade de diálogos, para não atrapalhar o ritmo. Se eu tivesse entrado no projeto ainda mais cedo, teria feito muito mais experiências. Mas acho importante ousar, buscar algo novo, oferecer algo diferente para o espectador. Este era o filme certo para me divertir.

    Também era importante para você fugir do sentimentalismo. 

    Sim. Se eu buscasse as lágrimas, o filme seria uma mentira. Eu queria produzir uma experiência autêntica, pessoal, porque gosto muito de Greg, e existe muito da relação dele com o pai dele na minha própria relação com meu pai. No final das contas, tenho que lidar com as emoções dele, então não teria sentido criar algo melodramático. Queria respeitar o espectador, e dar a oportunidade de escolher, de interpretar os fatos à sua maneira.

    Além do filme, existem os pequenos filmes dentro do filme, ou seja, as paródias caseiras de Greg e Earl. Deve ter sido divertido criar estas cenas. 

    O grande mérito desta parte é de Nathan Marsh e Edward Bursch, que de fato construíram esses pequenos filmes. Foi um processo intenso, porque senti a responsabilidade de agradecer vários cineastas que me inspiraram. Esta é uma razão a mais pela qual o filme é tão pessoal. Criar o título e o formato para cada paródia foi engraçado: nós sentamos e definimos um estilo diferente para cada uma.

    O elenco mistura atores novatos com outros muito experientes no cinema independente. Você já tinha trabalhado com alguns desses nomes, como Connie Britton. 

    Tive muita sorte porque Connie Britton me ligou e disse: “Eu conheço este roteiro, sei que você está dirigindo, e quero interpretar a mãe”. Esta foi uma fácil escolha. Depois, o filme se tornou real quando organizamos vários testes para os papéis adolescentes. O processo foi longo até encontrar o Greg e a Rachel certos, que tivessem química entre si. Eu buscava uma amizade intensa, e não apenas uma relação amorosa, por isso, era preciso achar a química certa. E Thomas Mann e Olivia Cooke eram perfeitos. Quanto a RJ Cyler, ele apareceu mais perto do fim do processo. Felizmente, para os papéis adultos, consegui ter Nick Offerman, Molly Shannon e Jon Bernthal, que eram minhas primeiras escolhas.

    Vocês fizeram testes com Olivia Cooke e Thomas Mann juntos? 

    Isso foi um problema. A primeira contratada foi Olivia, e depois nós precisávamos encontrar o Greg que combinasse com ela. Eu vi tantas pessoas para este papel, você nem acreditaria, mas quando encontramos Thomas Mann, ficou claro que ele era o Greg perfeito para Rachel. A pesquisa foi tão longa e intensa que no final, depois que estavam contratados, nós nem precisamos ensaiar para testar a química entre eles.

    A escolha do diretor de fotografia foi inusitada. Você trabalhou com Chung-hoon Chung, mais conhecido pela vertente surreal de filmes como Segredos de Sangue e Oldboy

    Às vezes, você precisa confiar nos seus instintos. Conversei com Chung por Skype, e ele é uma pessoa muito engraçada, que entendeu perfeitamente o filme e os personagens. Ele nem falava sobre câmera ou luz, apenas dos personagens. Senti que nossos trabalhos poderiam entrar em sintonia. Chung está sempre aberto a sugestões e é muito criativo. Por isso o relacionamento deu certo.

    Você considera esta história representativa da juventude de hoje, ou se trata de uma trama universal? 

    Acho que é universal. Não me sinto capaz de julgar ou definir o que são os jovens de hoje em dia. Só sei o que os adolescentes representam para mim neste momento, e tenho 20 anos a mais do que eles. Acredito que toda história pessoal se torna maior e atinge um efeito universal, isto é algo que aprendi. Nós nunca esquecemos a adolescência, são os momentos mais duros das nossas vidas. Quando eu perdi meu pai, por exemplo, me senti igual ao Greg no filme, por isso acredito que os diálogos tenham uma característica atemporal, e respeito isso. A trilha também tenta ser universal, não específica de hoje. Tentamos chegar a este tom de luto, de morosidade. Assim, um filme se torna muito mais relevante.

    Muitos filmes recentes têm mostrado adolescentes confrontados à morte, como A Culpa é das Estrelas e Se Eu Ficar. Por que aredita que estas histórias tenham se tornado tão populares? 

    Não tenho a menor ideia. Essa não é a razão que me encorajou a fazer este filme, e quando estava filmando, A Culpa é das Estrelas estava prestes a ser lançado. Ele ainda nem era um sucesso. Eu estava no meio de um processo quando A Culpa se tornou um sucesso, e tentei não me deixar afetar por isso.

    A recepção no festival de Sundance foi espetacular. Além do prêmio principal, o filme foi vendido a preço recorde aos distribuidores.

    Tudo foi uma surpresa. Eu tinha acabado de fazer o filme e estava sozinho, sentado no meu apartamento em Nova York, verificando os últimos passos antes de concluir. Eu estava com uma febre fortíssima durante o festival, então nem sabia o que estava realmente acontecendo. Eu esperava pelo pior, ou talvez que o filme fosse ignorado. É muito difícil terminar um filme, você sempre quer continuar mexendo aqui e ali, mas em algum momento é preciso concluir, aceitar que ele vai ter seus erros, seus acertos e suas falhas. Fiquei muito feliz que o público tenha aceitado tão bem. Eu fiz o melhor que pude, e por isso o resultado foi um alívio. Mesmo falando sobre isso agora, fico bem comovido. Foi um trabalho do coração.

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