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    Exclusivo: Helen Mirren e o diretor Simon Curtis falam sobre a biografia A Dama Dourada

    Esta é a história real de uma mulher que decide enfrentar o governo austríaco para recuperar um quadro roubado pelos nazistas.

    Na próxima quinta-feira, dia 13 de agosto, chega aos cinemas a biografia A Dama Dourada, dirigida por Simon Curtis (Sete Dias com Marilyn). Esta é a história real de Maria Altmann (Helen Mirren), uma judia que fugiu para Londres durante a adolescência, por causa da perseguição nazista. Décadas mais tarde, ela decide processar o governo austríaco, exigindo receber de volta o quadro "A Dama Dourada", de Gustav Klimt. Este retrato de sua tia foi roubado pelos nazistas, e incorporado às galerias de arte de Viena.

    Ela conta com a ajuda de um jovem advogado idealista (Ryan Reynolds) que, mesmo sem ter experiência nesta área do direito, encara uma batalha de muitos anos contra as autoridades austríacas, incapazes de admitir os crimes antissemitas. O grande elenco ainda conta com Daniel Brühl, como um austríaco que auxilia Maria, e Tatiana Maslany, interpretando a protagonista na adolescência.

    Durante o festival de Berlim 2015, o AdoroCinema teve uma entrevista exclusiva com todo o elenco. Descubra abaixo o que Helen Mirren e Simon Curtis têm a dizer sobre este projeto. Eles não evitam nenhum tema: antissemitismo, dívida histórica, dificuldades de fazer uma biografia, o papel das mulheres no cinema...

    Nasce uma ideia

    Simon Curtis: "Eu tinha visto um documentário na BBC sobre Maria Altmann, e pensei que esta era uma grande história do século XX. Achei que uma ficção poderia mergulhar nos aspectos emocionais da história, algo que o documentário não é capaz de fazer. Enquanto alguns aspectos da trama são específicos, os outros são universais, como o valor da família e da arte nas nossas vidas. Estamos em um período no qual muitas pessoas mudam de país, e suas histórias são uma mistura de onde vêm com os lugares por onde passaram".

    Um tema atual?

    Simon Curtis: "O filme é um pequeno lembrete. O tema do antissemitismo tem sido muito debatido recentemente, e esta não é, de modo algum, uma questão apenas alemã. É um problema do mundo inteiro. É valioso relembrar os perigos do antissemitismo, ou os perigos de escolher qualquer grupo como adversário por questões raciais ou religiosas. Também é curioso ter um jovem, neto de imigrantes, que não conhece nada sobre seu próprio passado, em parceria com uma senhora que viveu uma vida de imigrante".

    Helen Mirren: "É uma história de justiça, e de restituição. Essa história humana estará conosco para sempre, porque sempre teremos grupos humanos atacados, assassinados, desmunidos. É bom ter uma pequena história sobre a busca pela justiça, porque nos lembramos de milhões de pessoas que morreram sem conseguir a justiça. [...] Eu vejo uma fobia contra muçulmanos crescendo muito, talvez mais do que o antissemitismo. Muito do antissemitismo que se vê hoje na Europa está ligado a Israel, e não à presença de judeus. Mas talvez eu esteja errada. Sempre haverá pessoas contra determinados grupos, e nós temos que tomar cuidado com isso".

    Filmando em Londres, Viena...

    Helen Mirren: "Nós filmamos muito em Viena. Eles foram muito acolhedores, e muito generosos. O prefeito me convidou para a prefeitura, e me deu o bonequinho que fica sentado na prefeitura em Viena, como presente de boas-vindas. Mas eu sei que ele estava dando este presente a Maria Altmann. Ele disse que Maria foi muito importante para eles, foram os esforços dela que os fizeram reconsiderar sua história nacional".

    Simon Curtis: "Filmamos em Londres, Viena e Los Angeles, em inglês e alemão, no presente e no passado. Algumas cenas, como os momentos de tribunal, se passavam em Viena, mas foram filmadas em Londres. Alguns dos alemães interpretavam austríacos, outros austríacos interpretavam austríacos falando inglês... Foi um pesadelo! [...] Mesmo assim, filmar em Viena foi o ponto mais alto de toda a minha carreira. Foram três grandes semanas: a cidade é muito fotogênica, com história por todos os lados. A cidade me recebeu bem, como diretor. Além disso, muitos austríacos concordavam que o quadro deveria ser devolvido à família. Um austríaco estava felicíssimo de saber que o quadro está hoje em Nova York, porque isso mostra o talento do país no resto do mundo".

    Preparando para o papel

    Helen Mirren: "Eu assisti a um filme sobre a Maria, ela fez um longo depoimento filmado, que foi precioso para mim. Eu tive sorte, porque ela não é famosa, ninguém sabe qual é a cor do cabelo dela, ou se ela é alta ou baixa. Mesmo assim, eu tentei me parecer com ela o máximo possível. Mudei a cor dos meus olhos para castanho, para ficar mais parecido, o que era importante para mim. Ela também tinha uma incrível elegância aristocrática austríaca, que eu assimilei. Era uma personagem incrível: engraçada, inteligente, delicada sem ser histérica, mas profundamente emotiva.

    O verdadeiro Randy me ajudou. Ele veio às filmagens, e indicou alguns gestos que eu incorporei à personagem. Eu adoraria ter falado com ela, se pudesse. Infelizmente, ela faleceu alguns anos atrás. Mas existem muitas pessoas em Los Angeles que tinham informações sobre ela. Mesmo que eu tenha tentado ser Maria, existe algo que é muito difícil de captar. Eu sabia, quando assisti ao vídeo, que ela tinha uma particularidade que eu nunca poderia captar. Eu sabia que era por causa de sua história de vida. Eu cheguei o mais perto que pude".

    Simon Curtis: "Também trabalhamos com Suzie Stark, uma treinadora de dialetos e moradora de Viena, que trabalhou no sotaque de Daniel Brühl em Rush – No Limite da Emoção. Ela esteve presente, e ajudou Helen com o sotaque, tornando homogêneos os sotaques de todo o elenco".

    AFP

    Desafios das biografias

    Helen Mirren: "Recentemente, eu disse que nunca interpretaria um personagem biográfico, porque é um caso em que nunca se pode ganhar: você nunca vai ser tão boa quanto a pessoa real. Se você for brilhante, vai chegar a 70% da pessoa real. Normalmente, você chega a 50%, e existe o risco de cair na imitação, o que não é atuar. Muitas pessoas acham que imitar é atuar, mas são coisas diferentes. Por isso, sempre disse que não faria biografias. Com A Rainha, o tema e o roteiro eram tão extraordinários que eu aceitei.

    O mais difícil é falar sobre pessoas muito conhecidas através da História. Mas eu adorei a trajetória da Maria, e fiquei apaixonada pela personalidade dela. O que me liberou para interpretar a Rainha foi quando olhei para retratos dela. Não existiam filmes, nem registros sonoros. Eu vi apenas os retratos e tentava captar elementos da personalidade. Eu percebi que não tinha problema, eu apenas faria mais um retrato. São pinturas, versões, ideias. Existe tanto do artista quanto do retratado em cada retrato. Existia tanto a Helen Mirren quanto a Rainha naquele retrato".

    Produzindo filmes de médio orçamento

    Simon Curtis: "A indústria do cinema está muito interessada em histórias reais. Não é um gosto meu, é a realidade do mercado. As pessoas gostam ainda mais de histórias quando descobrem que elas aconteceram de verdade. [...] Em um filme de orçamento médio como esses, é garantido conseguir o dinheiro com a condição de trabalhar com alguns atores muito específicos da indústria. São atores que recebem seis, sete projetos ao mesmo tempo. Se eles escolhem o seu, então o filme será feito.

    Eu já fiz dois filmes com Harvey Weinstein, e os dois foram financiados por ele. Nos dois casos, ele estava tão apaixonado pelo tema quanto eu. Seria loucura não ouvir o que ele tem a dizer, porque ele é muito bom em exibir filmes. Muitos filmes brilhantes desaparecem rapidamente dos cinemas, e não tem pessoa melhor do que Harvey para garantir que seu filme será visto. Com o elenco também... Ele ajudou no financiamento e no cronograma. Foi uma grande experiência".

    O elenco

    Simon Curtis: "Eu tive a sorte de trabalhar com Helen Mirren e Ryan Reynolds, que são muito espertos, e se deram muito bem um com o outro. Isso trouxe um frescor à filmagem. Mesmo que eu estivesse feliz com o tema, tinha medo que ele fosse muito apegado aos aspectos legais e burocráticos. Quando chegamos à parte emocional, o filme ganhou vida. 

    Helen é incrivelmente instintiva. Meus dois dias preferidos foram antes da filmagem, quando nós sentamos e discutimos o roteiro todo, linha por linha. Ela melhorou cada página, é por isso que é uma das maiores atrizes do mundo. Ela dizia como melhorar cada cena, ou apontava qual momento não era necessário. Já Ryan era assustador para dirigir, porque ele conhece muito sobre grandes sets de filmagem, e tem opiniões fortes sobre cada cena. 

    Tatiana Maslany fala alemão fluentemente. Ela vem de uma família que fala alemão como primeira língua. Foi difícil escolher a atriz: ela tinha que agradar aos produtores, precisava parecer uma jovem Helen Mirren e falar alemão, o que não deixava muitas escolhas. Mas eu fiquei muito feliz com Tatiana, ela é extraordinária. Ainda vai se tornar uma grande estrela".

    Mulheres no cinema

    Simon Curtis: "Muitos trabalhos meus foram feitos com mulheres: a série Cranford foi estrelada por Judi Dench, e Escolha de Vida tinha Julie Walters como protagonista... Eu não sou um diretor para filmes da Marvel, sobre histórias em quadrinhos: eu gosto de filmes estrelados por mulheres". 

    Helen Mirren: "O que sempre digo sobre isso é que eu não ligo para bons papéis para mulheres no cinema. Quero ver muitos papéis, tanto bons quanto ruins. E podem ser muitos ruins, não tem problema. É preciso colocar mais energia para criar bons papéis para mulheres na vida, para que se tornem diretoras de universidades, grandes neurocirurgiãs, exploradoras subaquáticas, engenheiras químicas, presidentes de países... Aí, naturalmente, começarão a existir bons papéis para as mulheres no cinema.

    Ou seja, façam um esforço para existir representações poderosas de mulheres na vida, e o cinema vai acompanhar. Mas fico muito irritada que em cada peça ou filme que eu faça, existam 50 homens para cada mulher. Fico com pena por minhas amigas que não conseguem papéis. Que sejam bons ou ruins, elas precisam trabalhar".

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