Assim como Reese Witherspoon – só para citar um exemplo – fez questão de se cercar de um time vencedor (do Oscar) em seu novo filme, Wild, que produz e protagoniza, Chris Evans contratou uma equipe de primeira para este Before We Go, sua estreia na direção. A turma conta com o roteirista Ronald Bass (melhor roteiro por Rain Man), o diretor de fotografia John Guleserian (Questão de Tempo), o montador John Axelrad (Coração Louco).
Ao contrário da loirinha, no entanto, a temporada de premiações não parece ser o objetivo do intérprete do Capitão América. Com Before We Go, que estreou mundialmente no Festival de Toronto, a impressão que fica é a de que o ator (e agora diretor) “só” quer mostrar profundidade – e, claro, tirar férias da imagem de personagem da Marvel. Mas, ao contrário do que pregam muitos super-heróis, querer nem sempre é poder – que o diga Ryan Gosling em Cannes este ano. E Before We Go foi recebido com descrédito no TIFF.
“Só um pacote de boa aparência não vai levá-lo (Evans) muito longe, e este exercício de direção sem substância do ator faz o filme parecer um projeto ao mesmo tempo modesto e vaidoso”, cravou o crítico do The Hollywood Reporter. “Infelizmente, não há como ele limpar a barra de uma situação que criou para si próprio com este drama romântico que luta desesperadamente para parecer envolvente e encantador”, segundo o Indiewire. “É difícil imaginar esta première tardia do festival (que termina amanhã) lucrando com algum sucesso de crítica ou comercial”, disse o especialista da Variety, que foi ainda mais duro: “caro Capitão América: não desista ainda do seu emprego como super-herói”.
Resumindo, a trama é a seguinte: casal se conhece em uma estação de metrô em Nova York e passa a noite inteira caminhando e conversando. Trocando “metrô” pro “trem” e mudando de “Nova York” para “Viena” (você provavelmente já matou a charada) aonde chegamos? Sim, as comparações com Antes do Amanhecer (de Richard Linklater) são inevitáveis.
Evans é Nick, um trompetista meio hipster de passagem por Nova York, onde tem uma audição importante marcada para o dia seguinte, e uma festa de noivado de um casal de amigos para dar as caras. Alice Eve (Além da Escuridão - Star Trek) é Brooke, uma negociadora de obras de arte que está apressada. Nick está tocando na Grand Central Station, a fim de levantar um troco, quando Eve passa (apressada) e deixa o celular cair – e quebrar.
Ela perde o metrô e o rapaz, um cavalheiro à moda antiga, oferece ajuda. Ela, em princípio, reluta em aceitar a mão do estranho, mas não tem muita escolha, já que teve a bolsa roubada (cartões inclusos) e o telefone não funciona mais. É aí que começa uma odisseia pelas ruas de Nova York, onde eles vão revelando seus segredos enquanto cruzam mais uma esquina. Caminhando e conversando.
Ambos os atores estão cativantes em seus papéis (quem não conhece Alice Eve vai se surpreender) e há lá um momento ou outro genuinamente engraçadinho (“cabine telefônica como máquina do tempo”, lembre-se disso), mas à medida em que as revelações dos personagens vêm à tona, descobrimos que eles não são tão complexos como se supunha – ou como Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy).
O quadro fotografado de longe, a câmera tremida, o foco calculadamente perdido, por outro lado, dão uma roupagem indie cool que soa pretensiosa. E, quando o esforço é assim, tão aparente, não há super-herói que dê jeito.
Mas, claro, trata-se do nome Chris Evans em jogo. E, como ele está longe de ser qualquer um, Before We Go teve seus direitos de distribuição comprados em Toronto, para ser lançado em 2015.